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Leonardo Sakamoto

A internet e a farra dos comentários intolerantes 3: homofobia

Leonardo Sakamoto

17/05/2012 18h21

A Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República registrou uma média de 3,4 denúncias por dia de violência contra homossexuais no Brasil em 2011. Para relembrar que ainda precisamos caminhar horrores no combate à homofobia e ao machismo para sermos considerados minimamente civilizados, escolhi alguns comentários de leitores em posts meus que tratavam de universalização de direitos. Não são os piores, acreditem. Após cada um deles, uma breve réplica deste humilde blogueiro. Esta é a terceira edição da democrática compilação "A internet e a farra dos comentários intolerantes".

Aproveitei a comemoração do Dia Internacional contra a Homofobia e a Transfobia, nesta quinta (17), para publicar as pérolas (algumas tiveram que ser resumidas – eram verdadeiras teses). A data nasceu para relembrar que, há 22 anos, a Organização Mundial da Saúde finalmente retirou a homossexualidade de sua lista de doenças mentais (!). 

Por essas e por outras, nunca é demais lembrar: Todo homem é um inimigo até que tenha sido devidamente educado para o contrário.

"Queria ver você ter um filho homossexual."

Pode ser. Mas meu planejamento prevê filhos apenas um pouco mais para frente. Depois da Copa, talvez.

"Ainda bem que somos uma democracia e podemos falar, com liberdade, sobre como combater essas aberrações ."

Tradução: "uma vez que não posso chicotear esses malditos sodomitas em praça pública, graças aos céus, a internet me garante a covardia do anonimato, com incisivos golpes digitais". Parabéns, flipper! Seu IP está sendo fotografado.

"Vi dois caras se beijando na rua e tive que me segurar para não partir para cima. Tenho nojo."

Poderíamos discutir aqui durante dias os motivos que levam alguém a um quadro de patologia social como essa (de querer o mal do seu semelhante mesmo sem o conhecer). Prefiro apenas acreditar que há cura para a homofobia. Tem que haver.

"Um filho gay é culpa dos pais."

Tenho certeza que não. Mas e um filho preconceituoso e homofóbico, que não tem vergonha de postar aberrações em comentários de blogs, é culpa de quem?

"Há sim uma imposição gayzista no mundo. Se existe homens que querem largar o homossexualismo, o governo Dilma não deixa, agora, se um heterossexual quiser assumir ser gay, para os gayzistas, isso é um 'direito humano'. Ou seja, é uma verdadeira hipocrisia esse movimento gay!"

Afe. Nem sei por onde começo… Essa coisa de comparar movimentos contra o preconceito e a discriminação com o nazismo é grotesco. Imagino Hannah Arendt remexendo-se no túmulo.

"Tá na moda ser gay! Quando isso vai acabar, meu Deus?"

Ser homofóbico, por outro lado, é tão brega que dá até arrepio. É o ó.

"Quero dizer que o homossexualismo é fruto de uma sociedade totalmente desprovida de valores, de moral e entregue à devassidão."

Faz favor? Me avise em que sociedade você vai estar para eu ir para a outra, ok?

"Será que algum pai ou mãe quando seu filhinho nascesse diria a seguinte frase: 'estou feliz, nasceu mais um gayzinho!' Vou te falar, nenhum pai ou mãe diria isso, você acha q é discriminação, não é, se trata apenas da ordem natural das coisas."

Pergunta: como é que se descobre a orientação sexual no pós-parto? Sou todo ouvidos.

"Deus criou a mulher para ser companheira do homen. Esse negócio de homen com homen não passa de uma nojeira, me da ânsia de vômito."

Meu caro, se não vomitar em cima de ninguém, você é livre para botar para fora o que quiser. Mas, se pensa dessa forma, é difícil imaginar que tenha uma companheira ao seu lado.

"Sakamoto, você é gay. Só gay defende gay."

Sou mulher também. E índio, quilombola, trabalhador rural, sem-teto. Somos um. E somos vários. Por culpa sua.

"A natureza criou o homem com pênis e a mulher com vagina para se unirem e procriarem. Ninguém nasce pelo ânus para dizer que ânus é sexo."

Gênio! Descobriu isso sozinho ou leu num livro? Para garantir isso, vamos criar um departamento de fiscalização para monitorar o que cada pessoa faz com seu ânus na intimidade, o que acha? Sugiro até um nome legal: PODA (Polícia do Ânus Alheio).

Sakamoto, o nível do teu ataque à família é tão baixo, mas tão baixo, mas tão baixo que coloca em dúvida o seu "doutoramento". A questão não é julgar algo que não se escolhe, mas o problema é a campanha desmesurada pró-gay, como se isso fosse a salvação do mundo.
 Ataca-se tudo e a todos os que não são a favor da cultura gay. E isso é quê? Ditadura, talvez? Você é um monstro, que hoje se refestela na tua "criação". Vai ter o dia que você vai se arrepender amargamente disso tudo. Fique com Deus.

Monstro? Essa é nova. OK, me chame de Godzilla do Amor.

"É um verdadeiro absurdo a forma com que tentam colocar o homossexualismo como normalidade. O que mais me impressiona é o objetivo de cativar os jovens visando criar uma geração tolerante ao modelo de relação que os pais condenaram!"

É… Isso tem nome: esperança.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.