Topo

Leonardo Sakamoto

Greenpeace acusa JBS de exportar produtos de desmatamento e trabalho escravo

Leonardo Sakamoto

06/06/2012 12h33

O Greenpeace divulgou, nesta quarta (6), o relatório "JBS – Reprovada: Como a maior empresa de carnes do planeta continua massacrando a Amazônia" no qual afirma que a multinacional brasileira não conseguiu garantir que seus fornecedores não estejam envolvidos em desmatamento ilegal, trabalho escravo e invasão de Terras Indígenas e de Unidades de Conservação. O BNDES é sócio da empresa, controlando 31,4%.

Segundo a organizacão, por conta desse alerta, oito grandes clientes da JBS na Europa, como Adidas, Tesco, Clarks, Ikea, Princess, Sainsbury's, Asda e a gigante de alimentos Sligro Food Group, já teriam informado à empresa que cancelaram ou não vão mais renovar seus contratos. De acordo com o Greenpeace, as multinacionais alegam que só voltarão a negociar com a JBS depois que ela honrar o compromisso de forma transparente e passível de ser monitorada.

Para obter informações sobre o relatório, clique aqui.

"O mercado hoje não aceita relações com qualquer crime socioambiental. Já passou da hora de o maior frigorífico do mundo limpar sua lista de fornecedores para garantir que seus consumidores não participem da destruição da Amazônia", diz André Muggiati, coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace, em nota divulgada à imprensa.

Essa é uma das atualizações do relatório "A Farra do Boi", lançado em 2009, que denunciava como produtos de fazendas com trabalho escravo e desmatamento chegavam ao consumidor.

Outro lado – O JBS divulgou uma nota, assinado por Jeremiah O'Callaghan, diretor de Relações com Investidores, repudiando o estudo e afirmando que tomará medidas judiciais cabíveis: "a JBS S.A. comunica a seus acionistas e ao mercado em geral que foi surpreendida hoje com a divulgação de um documento por parte da Organização Não Governamental (ONG) Greenpeace, em que é acusada de colaborar com o desmatamento da floresta Amazônica e não cumprir os acordos firmados. As informações que mencionam a JBS no relatório são falsas, enganosas, incorretas e induzem a sociedade a uma conclusão equivocada sobre a realidade dos fatos. Por esse motivo, a companhia interpelará judicialmente o Greenpeace e buscará todos os meios jurídicos cabíveis para a reparação dos danos materiais e à sua imagem causados pelas informações equivocadas divulgadas."

A empresa diz que recebeu com "espanto" o que chamou de "difamação pública" e afirma que tem demonstrado ser "a empresa que se encontra em estágio mais avançado na área de sustentabilidade no setor frigorífico do país".

Também afirma que "diante dos esclarecimentos acima, a JBS entende que o documento divulgado hoje pelo Greenpeace não colabora em nada e nem enriquece as discussões sobre as questões relacionadas à sustentabilidade na cadeia da carne bovina no Brasil. As acusações apresentadas são falsas, levianas, infundadas e não demonstram a imparcialidade necessária, por parte do Greenpeace, para o avanço de questões com tamanha importância".

A empresa relacionou os casos levantados pelo Greenpeace, com justificativas sobre eles, que podem ser vistas clicando aqui.

Relembrar é viver – Com base em um levantamento feito em parceria com o Incra, em 2009, o Ministério Público Federal do Pará iniciou duas dezenas de processos judiciais contra fazendas e frigoríficos, pedindo o pagamento de R$ 2,1 bilhões em indenizações pelos danos ambientais no final de maio de 2009. Dezenas de empresas que compraram subprodutos desses frigoríficos receberam notificações em que foram informadas que haviam adquirido insumos obtidos através do desmatamento ilegal da Amazônia e do trabalho escravo A partir da notificação, deveriam parar de comprar desses fazendeiros e frigoríficos ou passariam à condição de co-responsáveis pelos danos ambientais.

Entre as empresas notificadas estavam varejistas como Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar. Entre os frigoríficos processados aparecia um dos maiores do país, o Bertin, hoje sob controle do JBS, que comprou gado de fazendas com crimes ambientais. Entre as fazendas irregulares, nove pertenciam à Agropecuária Santa Bárbara, ligada ao banqueiro Daniel Dantas.

Apesar da chiadeira de produtores rurais e das bravatas de seus parlamentares ruralistas, o varejo respondeu à ação. Por exemplo, as redes de supermercados acataram as recomendações, pressionando os frigoríficos. As grandes indústrias processadoras de carne e o governo do Pará começarm a assinar, após um mês de negociações, termos de ajustamento de conduta com o Ministério Público Federal. Com o tempo, municípios paraneses e frigoríficos menores foram envolvidos no processo.

Os acordos do Pará foram os primeiros e contribuíram com a diminuição no índice de desmatamento no Estado. Eles acabaram sendo repetidos em outros Estados a ponto de ser necessária a criação de um acordo regional. Há dois meses, o Ministério Público Federal propôs a representantes de frigoríficos e exportadores de carne bovina um acordo unificado para regularização ambiental e social da cadeia produtiva em toda a região amazônica, uniformizando as obrigações e incentivos dados aos produtores rurais. Dessa forma, as indústrias beneficiadoras e exportadoras de carne bovina se comprometem a comprar matéria-prima apenas de produtores rurais que não cometam desmatamento ilegal, façam o georreferenciamento de suas propriedades, iniciem o processo de licenciamento ambiental e não tenham ocorrência de trabalho escravo, invasão de Terras Indígenas, quilombolas, de comunidades tradicionais ou Unidades de Conservação.

Em contrapartida, o MPF propõe o desembargo simplificado das propriedades que se comprometam com a regularização, a obtenção de crédito rural sem exigência de certificação, melhorias nos sistemas de controle de trânsito de animais, prioridade na regularização fundiária e no cadastramento dos imóveis rurais.

Leia também:
Siderúrgicas assinam acordo com MPF contra o desmatamento e o trabalho escravo

Atualizado para inclusão de informações do "Comunicado ao Mercado" do JBS às 17h50.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.