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Leonardo Sakamoto

CPT e MST afirmam que novos conflitos podem acontecer no Pará

Leonardo Sakamoto

27/06/2012 23h49

A Comissão Pastoral da Terra e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra divulgaram nota, nesta quarta (27), afirmando que a violência pode aumentar se as negociações envolvendo governo, empresas e movimentos sociais não avançarem no Pará. Eles informaram que não abrem mão das cinco fazendas em que 1300 famílias do MST estão acampadas nas regiões Sul e Sudeste do Estado. "Não aceitaremos despejos em nossas áreas, intimidações e prisões, bem como a criminalização das lideranças e do movimento."

O pano de fundo foi o conflito na fazenda Cedro, em Eldorado dos Carajás (PA), quando trabalhadores rurais foram feridos a bala por seguranças particulares na última quinta (21). A área está sob a responsabilidade da Agropecuária Santa Bárbara, que tem entre seus acionistas o banqueiro Daniel Dantas.

José Batista Afonso, da coordenação nacional da Comissão Pastoral da Terra em Marabá, afirma que os feridos estavam se reunindo na porteira da fazenda para um ato contra a grilagem de terras, o trabalho escravo e o uso excessivo de agrotóxicos, como parte das ações paralelas à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Nesse momento, os seguranças atiraram contra eles. Segundo Batista, 12 pessoas deram entrada no Hospital de Eldorado dos Carajás, entre elas uma criança.

O MST informa que, tempos atrás, chegou a ser proposto um acordo judicial perante a Vara Agrária de Marabá, através do qual os movimentos sociais desocupariam as fazendas Espírito Santo, Castanhais e Porto Rico. Com isso, outras três (Cedro, Itacaiunas e Fortaleza) seriam desapropriadas para o assentamento das famílias. Segundo o movimento, os trabalhadores desocuparam as três fazendas, mas o Grupo Santa Bárbara tem se negou a assinar o acordo

Para as instituicões, o conflito "poderá se estender para outros acampamentos do movimento caso o Incra nacional não dê resposta positiva à pauta apresentada na sexta-feira à Ouvidoria Agrária e Superintendência [do Incra] de Marabá". De acordo com a nota, para assentar as 1300 famílias, é necessário enfrentar interesses fundiários da Vale, do Grupo Quagliato e da Santa Bárbara.

"Nos últimos dois anos, o Movimento manteve as famílias acampadas e participou de mais de uma dezena de audiências na Vara Agrária e com a Ouvidoria Agrária Nacional, cumprindo com sua parte nos acordos. Durante todo esse tempo, o grupo do banqueiro Dantas vem, cada vez mais, expandindo suas propriedades na região a custa de desvio do dinheiro público contando com a conivência do Incra e da Justiça." O MST afirma que a Santa Bárbara não cumpriu com sua parte no acordo judicial e que não irá se retirar da fazenda Cedro.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.