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Leonardo Sakamoto

Enquete: qual o preconceito que mais te incomoda em São Paulo?

Leonardo Sakamoto

24/01/2013 17h58

São Paulo faz aniversário neste 25 de janeiro. E, pela TV, já começa a pipocar, aqui e ali, comerciais explicando didaticamente para o paulistano – e, por que não, para o restante do país – a razão pela qual devemos amar incondicionalmente esta cidade. Sem direito a questionar, criticar ou lutar para que coisas mudem.

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  • http://noticias.uol.com.br/enquetes/2013/01/24/qual-preconceito-ouvido-nas-ruas-de-sao-paulo-mais-te-incomoda.js

Como se a incapacidade da cidade em ser realmente inclusiva e democrática fosse parte do seu charme. Esse discurso, que chega a sugerir uma paráfrase do lema da Gloriosa ("São Paulo, ame-a ou deixe-a") é assustador.

Por gostar da cidade em que nasci, dói ouvir algumas aberrações da boca dos meus conterrâneos ou das pessoas que escolheram o burgo paulistano para viver. Essas frases não são coisas inofensivas ou engraçadinhas, mas ajudam a renovar a segregação imposta pelo muro invisível que separa pobres e ricos, brancos e negros, héteros e homossexuais, estabelecidos e outsiders, quem tem e quem não tem, entre outros.

Preconceito existe em todo o lugar, não é monopólio paulistano. Mas em cada região, há ódios que se sobressaem mais do que outros.

Com a ajuda de amigos jornalistas e baseado também nos comentários dos posts deste blog (fonte inesgotável de bizarrices), elencamos frases carregadas de ódio, arrogância e inversão de valores que, vira e mexe, são ouvidas ou lidas na Paulicéia. A primeira versão desta enquete foi publicada no ano passado. Trago-a revista e atualizada.

Porque o mundo evolui. E o preconceito também.

Como já disse aqui, o "paulistanismo", o nacionalismo paulista, funciona como uma espécie de seita radical para os seus adeptos. Mesmo as pessoas mais calmas viram feras, libertando uma fúria bandeirante reprimida no peito quando se vêem diante de críticas à cidade.

Renovo a pergunta: somos capazes de nos desconectar do passado e construir um futuro mais justo ou vamos fica repetindo idéias e frases que carregam em si uma visão ridícula de mundo?

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.