Continuo encontrando razões para ter vergonha de ser hétero
Apesar da realização da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (sic), sob a gestão de Marco Feliciano, ter sido adiada, pude presenciar um grupo de pessoas na Câmara dos Deputados, na última quarta, discutindo a necessidade de aprovar a punição contra o que chamam de discriminação a heterossexuais. "Quero ter o direito de professar minha fé sem ser criticado por esses jornalistas gays", foi o que ouvi de canto de ouvido (ah, se o pessoal soubesse que a quantidade de homofóbicos em algumas redações é degradantemente alta…)
Queria discorrer sobre a provocação ridícula e descabida que é a apresentação da proposta que pune a discriminação de heterossexuais (!) e estabelece políticas para proteger quem se relaciona de forma heterossexual (!!!). Vulgo, a imensa maioria da população. O projeto de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líder do partido na Casa, ignora que vivemos em uma sociedade que considera anormal qualquer coisa que não seja uma relação homem/mulher.
Ia escrever um texto para tratar do perigo representado por uma maioria (com direitos assegurados) que começa a se manifestar de forma organizada diante da luta de uma minoria por sua dignidade, reivindicando dessa forma a manutenção do espaço que já é seu (conquistado por violência, a ferro e fogo) – mesmo que a conquista de direitos pela minoria não signifique redução de direitos da maioria mas, apenas, necessidade de tolerância por parte desta e lembrando que "maioria" e "minoria" não são uma questão numérica, mas sim de quanto um grupo consegue efetivar sua cidadania.
Mas, aí, tomei fôlego e desencanei quando li que, de acordo com o projeto do glorioso Cunha, "a preocupação com grupos considerados minoritários tem escondido o fato de que a condição heterossexual também pode ser objeto de discriminação, a ponto de que se venha tornando comum a noção de heterofobia". Putz, como é que dá para dialogar com isso?
Um sentimento de vergonha alheia, daqueles que provoca na gente vontade de se esconder embaixo do tapete da sala, tomou conta de mim.
Nessas horas, só posso citar a sabedoria presente na mitologia cristã, no Evangelho de Lucas, capítulo 23: Pai, perdoai. Eles não sabem o que fazem.
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