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Leonardo Sakamoto

Por favor, use comentários para demonstrar sua própria ignorância

Leonardo Sakamoto

18/05/2013 21h40

Como explicar para algumas pessoas que, muitas vezes, o jornalista simplesmente não se importa quando um leitor bota os bofes para fora na área de comentários de um texto é um segredo para mim. Quem descobrir como fazer isso, por favor, avise.

Se o texto trouxe informação e abriu um debate bom, fico satisfeito. Particularmente, não vejo uma crítica negativa dura dentro de uma discussão como algo ruim ou pessoal. Faz parte. Contudo, comentários insandecidos ou violentos são inúteis. Como estamos em uma democracia, todos são livres para postar o que quiserem – desde que não cometam crimes através disso. Mas lembrem-se que há sempre um outro lado: os autores dos textos que provocaram o debate são livres para não dar bola para quem posta esquisitices, gastando nosso tempo precioso. Analisando as estatísticas de acesso, constata-se que, realmente, é uma minoria raivosa dos leitores que publica esquisitices. Desculpe se isso soa arrogante, mas é verdade. Fazer o quê.

Dia desses, um rapaz me parou na rua e, com um sorriso maroto, disse "você não deve ter dormido depois que destruí seu post naquele texto, hein"?. Quando percebeu que eu nem tinha lido o que escreveu por estar em uma semana corrida, ficou muito, mas muito chateado. Pedi para ele mandar um e-mail, que eu leria o comentário e retornaria, mas deu as costas e se foi sem nem um tchauzinho. Não deu nem tempo de tentar entender a razão dele querer desopilar o fígado em um desconhecido na internet.

Concordo com quem diz que são precisos mais estudos para entender o que se passa na cabeça de alguém que comenta essas coisas estranhas.

Mas há uma solução! Um amigo jornalista enviou um aviso para ser colocado na área de comentários de blogs que achei fino. A menos que esteja enganado, ele surgiu no The Big Picture, de Barry Ritholtz – para dar o devido crédito.

Em tradução livre:

"Por favor, use os comentários para demonstrar sua própria ignorância, a falta de familiaridade com dados empíricos e a falta de respeito pelo conhecimento científico. Certifique-se de criar falácias e argumentar contra coisas que eu não disse, nem impliquei. Se você puder repetir memes previamente desacreditados ou orientar a conversa para discussões irrelevantes e que fujam do tema, isso seria apreciado. Por fim, gentilmente renuncie a toda civilidade em seu discurso. Você está, afinal de contas, anônimo."

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.