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Leonardo Sakamoto

Dia da Independência: Se Deus é brasileiro, o Tinhoso também

Leonardo Sakamoto

07/09/2013 10h18

Não. O hino nacional brasileiro não foi eleito um dos mais bonitos do mundo. Mas temos tristes índices de analfabetismo e mortalidade infantil.

Também é mito que a bandeira nacional (cujo verde não tem nada a ver com "nossas matas" e o amarelo com "nosso ouro")  é considerada uma das mais belas do mundo. Mas somos reconhecidos pelas altas taxas de desmatamento.

O povo brasileiro não é o mais alegre do planeta. Mas é um dos campeões mundiais de desigualdade social.

A democracia racial, apesar de alardeada como exemplo planetário, não existe e, por isso, não nos define. O que nos explica são séculos de escravismo.

A mulher brasileira não é a mais bonita do mundo. Mas somos um país reconhecidamente machista.

Nossa comida não foi eleita a mais gostosa. Mas estamos entre os campeões de uso de agrotóxicos.

Não está escrito em lugar algum que teremos um futuro grandioso pela frente. Nem que teremos um futuro.

Em suma, muito cuidado. Datas como essa servem para compartilhar ou empurrar elementos simbólicos que, teoricamente, ajudam a forjar ou fortalecer a noção de "nação". Mostrando que somos iguais (sic) e filhos da mesma pátria (sic) – mesmo que a maioria seja tratada como bastardos renegados.

Afinal, se Deus for brasileiro, o Diabo também será.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.