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Leonardo Sakamoto

SP, 460 anos: Qual preconceito ouvido nas ruas mais te incomoda?

Leonardo Sakamoto

23/01/2014 11h36

Eu amo a minha cidade.

Por isso, é ridículo começar um texto tratando de problemas da cidade com uma afirmação como esta, acima.

  • 20079
  • true
  • http://noticias.uol.com.br/enquetes/2014/01/22/qual-preconceito-ouvido-nas-ruas-de-sao-paulo-mais-te-incomoda.js

É como pedir desculpas por avisar que o seu avô está com a barba suja de sopa de feijão com medo da reação que toda a família. Afinal de contas, a realidade pouco importa, o que conta são as aparências. E se você dá um toque para o vovô é porque quer ver ele morto…

Como já disse aqui, por gostar da cidade em que nasci, dói ouvir aberrações da boca dos meus conterrâneos ou das pessoas que escolheram o burgo paulistano para viver.

Frases que não são coisas inofensivas ou engraçadinhas, mas ajudam a manter vivo o discurso que separa direitos de pobres e ricos, brancos e negros, héteros e homossexuais, cis e transsexuais, estabelecidos e outsiders, quem tem e quem não tem, entre outros.

Outro alerta que se faz necessário dado o comportamento de alguns leitores: existe preconceito em qualquer lugar do país e do mundo. Novamente, fico achando que é bobo ter que explicar isso para poder justificar uma avaliação de como nós, paulistanos, tratamos os nossos semelhantes. O fato de outro lugar ser mais ofensivo nos dá a liberdade de discriminar também?

O "paulistanismo", o nacionalismo paulista, funciona como uma espécie de seita radical para os seus adeptos. Mesmo as pessoas mais calmas viram feras, libertando uma fúria bandeirante reprimida no peito quando se vêem diante de críticas à cidade. Já deixamos para trás, na ditadura militar, o momento "ame-o ou deixe-o", não?

Como já virou uma tradição neste blog, trago a pesquisa sobre o preconceito que mais incomoda por aqui. Com a ajuda de amigos jornalistas e baseado também nos comentários dos posts deste blog (fonte inesgotável de bizarrices), elencamos frases carregadas de ódio, arrogância e inversão de valores que, vira e mexe, são ouvidas ou lidas na Paulicéia.

No dia 25, publico os resultados, comparando-os com os de 2013.

Renovo a pergunta: somos capazes de nos desconectar do passado e construir um futuro mais justo ou vamos fica repetindo idéias e frases que carregam em si uma visão ridícula de mundo?

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.