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Leonardo Sakamoto

SP 460 anos: "Bandido bom é bandido morto" é o preconceito mais votado

Leonardo Sakamoto

25/01/2014 09h10

Conforme prometido, seguem os resultados da enquete sobre os preconceitos que mais incomodam ao serem ouvidos nas ruas de São Paulo. Considere minha contribuição nos festejos do 460o aniversário da nossa cidade. Em ambos os anos, tivemos cerca de 3 mil votos. O que  não significa absolutamente nada porque isto é uma enquete sem nenhum rigor científico. Os resultados foram colhidos de ambas as enquetes às 8h50 deste sábado (25).

De qualquer forma, o fato da opção "Bandido bom é bandido morto" ter ficado em primeiro lugar, neste ano, com 16,71%, é paradigmático do momento em que vivemos, em que a preocupação com a questão da segurança pública e as políticas adotadas para resolvê-la estão mais presentes no debate público. Como já disse aqui anteriormente, tão presentes que não me admira se o debate sobre a redução da maioridade penal for utilizado como instrumento eleitoral durante a campanha no segundo semestre, soterrando o bom senso.

Um dado complementar para essa hipótese é de que o 11o lugar de 2013 (Tá com dó [de dependente químico ou de sem-teto]? Leva para casa!, com 4,08%) subiu para quinto este ano, atingindo 9,25%.

No ano passado, o primeiro (É tudo "baianada" – com 14,96%) e o segundo (O trabalho de São Paulo é que sustenta o restante desse país – com 12,52%) lugares têm relação direta como parte de São Paulo se vê e vê os de fora. O que ganha um certo ar de narrativa nonsense porque todos daqui são de fora, considerando que enxotamos os habitantes nativos. O terceiro lugar de 2013 (Mano, cê é bicha?, 12,29%) ficou apenas em oitavo, em 2014, com 5,63%. "Tinha que ser preto!", que teve 11,83% e q quarta posição, em 2013, subiu para a segunda neste ano, com 13,25%.

A opção "Manifestantes? E minha liberdade de ir e vir? Olha o trânsito!", que teve 4,27%, em 2013, subiu para 7,56% neste ano, após um ano com gente na rua "atrapalhando o trânsito".

Feliz aniversário, São Paulo!

Qual preconceito ouvido nas ruas de São Paulo mais te incomoda? – Resultados em 2014

1) Bandido bom é bandido morto 16,71%
2) Tinha que ser preto! 13,25%
3) É tudo "baianada" 12,95%
4) O trabalho de São Paulo é que sustenta o restante desse país 10,75%
5) Tá com dó [de dependente químico ou de sem-teto]? Leva para casa! 


9,25%
6) Manifestantes? E minha liberdade de ir e vir? Olha o trânsito! 


7,56%
7) É pobre, mas tem caráter. Nunca sumiu nada lá de casa 


7,22%
8 ) Mano, cê é bicha? 


5,63%
9) Adoro esse shopping que só tem gente bonita e diferenciada 


4,81%
10) Esse aeroporto agora está parecendo uma rodoviária 


3,9%
11) Vagabundo que faz greve deveria ser demitido 


3,73%
12) Criança tinha que trabalhar para não fazer arruaça 


2,85%
13) Agora ele vai pro hospital e a moto tem seguro. Mas quem paga meu espelho? 


0,58%
14) Tire as mãos do meu carro 


0,51%
15) Meu, o centro agora tá cheio desse "povo da flautinha" 


0,31%

Qual preconceito ouvido nas ruas de São Paulo mais te incomoda? – Resultados em 2013

1) É tudo "baianada" 14,96%
2) O trabalho de São Paulo é que sustenta o restante desse país 


12,52%
3) Mano, cê é bicha? 


12,29%
4) Tinha que ser preto! 


11,83%
5) Bandido bom é bandido morto 


11,31%
6) Adoro esse shopping que só tem gente bonita e diferenciada 


6,9%
7) É pobre, mas tem caráter. Nunca sumiu nada lá de casa 6,51%
8 ) Esse aeroporto agora está parecendo uma rodoviária 


5,13%
9) Vagabundo que faz greve deveria ser demitido 4,37%
10) Manifestantes? E minha liberdade de ir e vir? Olha o trânsito! 


4,27%
11) Tá com dó [de dependente químico ou de sem-teto]? Leva para casa! 


4,08%
12) Criança tinha que trabalhar para não fazer arruaça 


3,35%
13) Agora ele vai pro hospital e a moto tem seguro. Mas quem paga meu espelho? 


1,05%
14) Meu, o Centro agora tá cheio desse "povo da flautinha" 


0,82%
15) Tire as mãos do meu carro 


0,59%


Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.