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Leonardo Sakamoto

Se "homens de bem" calarem Pastor Feliciano, "pervertidos" estarão com ele

Leonardo Sakamoto

07/05/2014 17h53

Gostaria de prestar minha total e irrestrita solidariedade a você, Marco Feliciano, pastor e deputado federal, ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, vítima de uma tentativa torpe de cerceamento de seus direitos fundamentais por parte de religiosos de sua congregação que não gostaram de sua entrevista à revista Playboy, de acordo com matéria de Daniela Lima, na Folha de S. Paulo. Li a mencionada entrevista e achei extremamente interessante para entender sua visão de mundo e a razão para toda lambança que você e seus correligionários fizeram na comissão.

E aproveito para ressaltar que se precisar de um advogado ou advogada com experiência na defesa de direitos fundamentais para combater essa injustiça, posso indicar uma série de organizações que lutam pelos direitos de mulheres,  gays, lésbicas, transexuais, travestis, negros, quilombolas, indígenas, pessoas com deficiência, pessoas com HIV, crianças e adolescentes, entre outras, que teriam prazer em defendê-lo. Apesar de tudo.

E força na peruca! Tem tanta gente jogando contra as garantias fundamentais do ser humano que, nessa hora, a gente tem que se unir, não é mesmo?

Por dar entrevista à Playboy, Feliciano pode perder o título de pastor

A Convenção Fraternal das Assembleias de Deus no Estado de São Paulo (Confradesp) pode cassar o título de pastor do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) por ele ter dado uma entrevista à revista "Playboy", cujo carro-chefe é a publicação de fotos de mulheres nuas.

Ontem, a entidade que reúne 8.000 pastores do Ministério do Belém no Estado decidiu abrir uma apuração contra Feliciano em seu conselho de ética. O procedimento pode levar a desde uma advertência até o "descredenciamento pastoral" do deputado. Ou seja, a cassação do título de pastor.

A entrevista, publicada em abril, tem oito páginas. À publicação, Feliciano confessou ter usado cocaína na adolescência e disse sonhar com a Presidência. Ele também falou sobre sexo anal. "Com certeza tem homens que têm tara por ânus, sim. Não entendo muito dessa área porque nunca fiz, graças a Deus, e espero nunca fazer, porque parece que quem faz não volta mais", avaliou.

À Folha, o chefe de gabinete de Feliciano, Talma Bauer, disse que ele não falaria sobre o caso porque ainda não havia sido notificado, mas que considerava normal um "pedido de explicações". Bauer diz que a entrevista foi um "direito de resposta" concedido pela revista ao deputado, que se sentiu ofendido pelo modo como um humorista se referiu a ele na 'Playboy'.

Membro da direção da Confradesp, o pastor Lelis Washington diz que o problema não está no conteúdo das declarações de Feliciano. "Deixando de analisar a entrevista, não é essa literatura que recomendamos aos fiéis."

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.