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Leonardo Sakamoto

Metrô de SP é autuado pelo Ministério do Trabalho por demitir grevistas

Leonardo Sakamoto

13/06/2014 15h33

A Companhia do Metropolitano de São Paulo foi autuada, nesta sexta (13), pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego por atitude anti-sindical devido à demissão de trabalhadores em meio à greve da categoria.

"O Metrô tinha meios jurídicos para fazer valer a decisão do Tribunal Regional do Trabalho. Mandar embora 42 trabalhadores sem nem dizer qual a justa causa que está sendo alegada é abuso de direitos", afirmou Renato Bignami, auditor fiscal do trabalho responsável pelo caso. "Uma greve é conflitiva por natureza. Não é correto a empresa se valer de seu poder hierárquico e mandar embora 42 trabalhadores diretamente envolvidos na greve. Isso é aviltar os direitos dos trabalhadores", explica.

Através de sua assessoria de comunicação, o Metrô de São Paulo informou que "as demissões não se basearam no ato de greve, mas em razão de abusos cometidos durante o período de greve".

O auto de infração afirma que a dispensa por justa causa de 42 trabalhadores, alguns dos quais dirigentes sindicais, "adquire contornos de desproporcionalidade, notadamente tendo em vista a decisão judicial editada em favor da empresa".

O impacto financeiro é mínimo dado que o valor da autuação é baixo (R$ 8.050.55) e, além disso, cabe recurso. Contudo, ela significa que o Ministério do Trabalho e Emprego vê as demissões de trabalhadores durante a greve como abusivas. Ou seja, isso ajuda a reabrir a discussão sobre a legitimidade das demissões do Metrô e contribui com o argumento da defesa dos trabalhadores.

"O ato terminativo dos 42 contratos de trabalho por justa causa dos empregados acabou, assim, aparentando uma medida de caráter persecutório que poderia possuir o condão da vingança ou perseguição à categoria, incabíveis neste momento de conflito." Segundo o auto, a empresa contraria convenções da Organização Internacional do Trabalho, atentando contra a liberdade sindical.

A greve dos metroviários de São Paulo começou no dia 5 de junho e foi suspensa na última quarta (11). Eles reivindicavam um aumento de 12,2% e o governo estadual chegou a propor 8,7% – mesmo índice sugerido pelo Tribunal Regional do Trabalho. Os trabalhadores ameaçam parar novamente caso os 42 demitidos não sejam reintegrados sem sanções.

Atualizado às 17h30, do dia 13/6/2014, para inclusão do posicionamento do Metrô.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.