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Leonardo Sakamoto

Guia rápido para não ser massa burra de manobra nas eleições - Parte 3

Leonardo Sakamoto

14/08/2014 18h12

Nunca, na história deste país, as redes sociais terão tanta importância nas eleições quanto agora.

(Porque nunca houve gente nas redes sociais como agora, oras!)

Qualquer ameba com problemas cognitivos sabe que Facebook, Twitter, Instagram, entre outros, têm sido fundamentais para mobilização. Principalmente entre os mais jovens, mas não apenas.

(Ou você não percebeu que, agora, sua mãe fez uma conta no FB e deixa comentários vergonhosos sobre as fotos que você posta?)

Mas, ao mesmo tempo, uma situação nova como esta é um terreno fértil para cultivar boatos. Muita coisa fake tem corrido a rede loucamente, criando medo. Reputações nascem e reputações morrem de uma hora para outra por conta disso.

E sabe aonde chegamos ao seguir o histórico de replicação de algumas postagens estranhas? Em lugar algum. Igual a uma cebola: é grande, é dura, mas se você for descascando descobre que, lá dentro, não tem nada.

Como já escrevi, fico assustado com a quantidade de coisa mal checada e precipitada que circula pelas redes sociais, principalmente em momentos de grande comoção, como uma eleição. Fofoca sempre existiu, mas agora é transmitida em massa e em tempo real.

Se as redes sociais ajudam a furar bloqueios e a questionar estruturas tradicionais de poder, elas também desinformam.

Tem sempre um pilantra distorcendo ou descontextualizando informação e divulgando-a, por ignorância, má fé ou visando a um objetivo pessoal ou de seu grupo. Ou aqueles que misturam realidade e desejo, fato e ficção, consciente ou inconscientemente.

Fiz com a ajuda de colegas jornalistas, há algum tempo, dez conselhos para usar bem o Twitter e o Facebook na cobertura de um acontecimento. Publico eles novamente, atualizados para as eleições, como a terceira parte do "Guia rápido para não ser massa burra de manobra nas eleições".

Leia também:
Guia rápido para não ser massa burra de manobra nas eleições – Parte 1
Guia rápido para não ser massa burra de manobra nas eleições – Parte 2

Já ouço lá no fundo da sala alguém me xingar ("Japonês censor-sor-sor…"). Bem, alguns podem achar que o certo seria divulgar tudo e deixar os próprios internautas perceberem o que é mentira. Tipo: deixa que o mercado se regular sozinho que, automaticamente, o bem estar da população será atendido.

Rá. Sabe de nada, inocente!

Uma informação errada ao ser divulgada causa um impacto negativo contrário maior do que sua correção. Ou seja, muitas vezes, o desmentido (por ser mais sem graça) não chega tão longe quando a denúncia.

Os Dez Mandamentos para Jornalista Profissional (ou Não) de Facebook e Twitter

1) Não divulgarás notícia sem antes checar a fonte da informação.

2) Não divulgarás notícias relevantes sem atribuir a elas fontes primárias de informação. Um "cara gente boa" ou uma BFF não é, necessariamente, fonte de informação confiável

3) Tuítes e posts "apócrifos", sem fonte clara, jamais serão aceitos como instrumento de checagem ou comprovação.

4) Não esquecerás que informação precede opinião.

5) Não repassarás informações que não fazem sentido algum só porque você não gosta do candidato ou candidata em questão. A disputa entre posições políticas deve ser baseada em um jogo limpo e não em invenciones.

6) Lembrarás que mais vale um tuíte ou post atrasado e bem checado que um rápido e mal apurado. E que um número grande de retuítes, compartilhamentos e "likes" não garante credibilidade de coisa alguma.

7) Não matarás – sem antes checar o óbito.

8 ) Não esquecerás que a apuração in loco, por telefone e/ou por e-mail precede, em ordem decrescente de importância, o chute.

9) Não terás pudores de reconhecer, rapidamente e sem poréns, o erro em caso de divulgação ou encaminhamento de informação incorreta.

10) Na dúvida, não retuitarás, compartilharás ou darás "like" em coisa alguma. Pois, tu és responsável por aquilo que repassas e atestas. Ou seja, se der merda, você também é culpado.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.