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Leonardo Sakamoto

Reduzir a maioridade ou proibir helicópteros em perseguições policiais?

Leonardo Sakamoto

24/06/2015 17h39

Uma longa perseguição de um policial militar a dois rapazes de 17 e 16 anos, na zona Sul de São Paulo, terminou com uma investigação aberta diante de indícios de tentativas de execução e de incriminação dos suspeitos.

Após atirar em um deles para que parasse, o policial disparou contra os rapazes, quando eles já estavam no chão. Então, deu mais dois tiros com o que parece ser uma arma que estava em posse deles. Ambos estão no hospital.

A Polícia Militar afastou o policial de suas funções e o prendeu, prometendo investigar o caso. Antecipou que essa não foi a conduta esperada.

Record:

Bandeirantes:

Perseguições, ao vivo, em programas policiais são um clássico no Brasil ou no exterior. Como me explicou uma colega, é muito simples: a produção localiza um chamado da polícia com uma ocorrência e coloca um helicóptero para seguir as viaturas ou o próprio helicóptero da corporação. Mas a história nunca termina dessa forma porque os policiais sabem que estão sendo filmados.

Neste caso, claramente o policial não percebeu.

Essa história poderia gerar várias análises: sobre as tentativas de encobrir ações de policiais em desacordo com a lei; sobre o comportamento de alguns apresentadores que não querem apenas noticiar, mas ver o circo pegar fogo; sobre a situação incômoda de policiais que trabalham dentro da lei e têm que aguentar o convívio com quem se acha acima dela; sobre a vida de jovens negros e pobres que, como sabemos, valem muito pouco. Mas deixe estar.

O que quero mesmo saber é: para que reduzir a maioridade penal, minha gente?

Não é simplesmente mais fácil proibir helicópteros da imprensa de circularem por aí? Assim a "limpeza" pode continuar a ser feita sem que ninguém fique sabendo.

Pois é o que vem acontecendo na periferia: nem sempre os jovens em situação de desacordo com a lei têm direito a irem diante de um juiz e serem encaminhados a uma instituição. São executados lá mesmo. Para a tranquilidade dos "homens e mulheres de bem".

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.