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Leonardo Sakamoto

Marte tem água salgada. Daqui a pouco, alguém propõe fechar a praia

Leonardo Sakamoto

28/09/2015 19h26

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Descobrem água salgada em Marte.

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Sondas enviadas ao planeta vermelho confirmam que a água é tóxica, capaz de causar danos à saúde – como a água do rio Tietê, em São Paulo.

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Durante a primeira expedição exploratória, astronautas resolvem entrar na água salgada marciana – com traje espacial e tudo. Nesse momento, ocorre a primeira self de praia interplanetária.

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Dentro das redomas construídas para instalar a colônia humana, cientistas conseguem limpar a água salgada tóxica e transformar a área em que ela se encontra em uma grande praia. Enquanto isso, na Terra, o Tietê continua impróprio para a vida.

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Jovens moradores da área nobre da colônia marciana formam grupos de justiceiros que passam a atacar os filhos de trabalhadores pobres que vão à praia. A acusação é de que eles fazem arrastões para roubar oxigênio da redoma. Como resposta, o poder público local passa a impedir que filhos de trabalhadores pobres da periferia cheguem à praia. Dizem que isso tem o objetivo de atuar no roubo de ar de forma preventiva. Apenas os que possuem dinheiro são autorizados pelas forças policiais a seguir viagem nos transportes. O mesmo controle não é feito com as famílias dos administradores, cientistas e, é claro, turistas com alto poder aquisitivo. Historiadores alertam que foi esse tipo de política segregacionista que levou a antiga cidade do Rio de Janeiro para o buraco nas Revoltas Populares de 2019, resolvida com a vinda do Grande Meteoro Redentor, em agosto daquele ano.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.