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Leonardo Sakamoto

Novo ministro da Saúde recebeu doações de empresa flagrada com escravos

Leonardo Sakamoto

02/10/2015 16h37

Vale o registro: O novo ministro da Saúde, Marcelo Castro, recebeu doações para a sua última campanha à deputado federal da Construtora Jurema, alvo de uma ação de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego que resultou no resgate de seis trabalhadores de condições análogas às de escravo em uma obra na rodovia BR-343, na zona rural da Amarante (PI), em maio de 2011. O total do apoio eleitoral foi de R$ 50.416,55.

A construtora está registrada na Receita Federal, com capital social declarado de R$ 22,45 milhões, em nome de João Costa e Castro e Humberto Costa e Castro – irmãos do novo ministro. João e Humberto também doaram, como pessoas físicas, mais R$ 150 mil para a campanha de Marcelo.

A construtora chegou a ser inserida no cadastro de empregadores flagrados por mão de obra análoga à de escravo, chamada "lista suja" do Ministério do Trabalho e Emprego, em 1o de julho de 2014, mas retirada por liminar judicial na atualização divulgada no dia 3 de setembro do mesmo ano. Duas das doações da Construtora Jurema foram no período em que o nome estava na lista, em 27 de julho e em 31 de agosto. O cadastro federal está suspenso por ordem de uma liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal a uma associação de empresas da construção civil.

O patrimônio declarado por Marcelo Castro, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, na última eleição, foi de R$ 1.369.937,07. Na de 2010, o total era de R$ 629.274,77 – um aumento de 117%.

Em sua declaração de bens, o ministro – que é médico psiquiatra, além de ruralista – afirmou que possui 31 glebas rurais e fazendas. A mais valiosa é a fazenda Ouro Branco, no Maranhão, no valor de R$ 680 mil, e a menos, a fazenda Maxixeiro IV, no Piauí, com valor de R$ 700,00.

O blog tentou contato com o novo ministro, mas não conseguiu.  Assim que tiver uma posição, publicará neste post.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.