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Leonardo Sakamoto

Folia? Protestos? Rolezinho? Amor? A bomba é solução para tudo em SP

Leonardo Sakamoto

01/02/2016 09h37

A Polícia Militar utilizou bombas para dispersar foliões, neste final de semana, em São Paulo, em um grande déjà vu do ano passado.

Não é novidade para ninguém que há uma relação de profundo amor de nossas forças públicas por artefatos explosivos que produzem luz, som e lágrimas.

Por aqui, a bomba se tornou uma panaceia utilizada para curar todos os males. Diálogo? Inteligência Policial? Técnicas não violentas? Esqueça tudo isso. Para garantir que o espaço público volte para seus donos, ou seja, os carros, o que liga é a bomba.

Folia em excesso? Bomba. Protestos contra tarifas? Bomba. Rolezinho? Bomba? Futebol? Bomba. Alegria? Bomba. Amor? Bomba.

Prova disso é seleção de notícias abaixo, veiculadas pela imprensa:

PM usa bombas durante bloco de Carnaval na Vila Madalena

PM usa bombas para dispersar protesto contra aumento da passagem em SP

Polícia usa bomba de efeito moral para dispersar torcedores

PM usa bombas e bala de borracha em 'rolezinho' em São Paulo

Após falha em trem, PM usa bombas para dispersar passageiros em SP

PM usa bombas para dispersar ato de alunos que bloqueou avenida de SP

Com bombas de gás, PM impede ocupação de sem-teto em prédio da região central

PM lançou uma bomba a cada sete segundos na Paulista para dispersar ato

Talvez, pela repetição à exaustão de ações como essas, estejamos perdendo a capacidade de perceber que o uso de bombas deveria ser o último recurso, não o primeiro. É a banalização da bomba e, com ela, da ignorância.

Considerando que a criatividade humana voa alto – tão alto que bombas foram recentemente despejadas em profusão contra professores em greve do vizinho Paraná – no limite a notícia será:

"PM usa bombas para reforçar toque de recolher"

Mas, então, esta discussão sobre o respeito às liberdades individuais e coletivas e sobre o direito à cidade não fará muito sentido…

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.