Topo

Leonardo Sakamoto

50% dos brasileiros acham negativa a vinda de trabalhadores estrangeiros

Leonardo Sakamoto

04/05/2016 18h00

Metade da população brasileira considera negativa a vinda de trabalhadores estrangeiros para o Brasil. É o que aponta pesquisa do Ibope Inteligência em parceria com a Worldwide Independent Network of Market Research. Outros 39% consideram-na positiva e 11% não souberam opinar. A pesquisa ouviu 2.002 pessoas em outubro de 2015.

A opinião brasileira é mais negativa do que a média da percepção mundial – 57% acham positiva a imigração de trabalhadores e 32% negativa.

Os que mais apoiam a imigração são China (81% favoráveis), Etiópia (76%) e Paquistão (75%) e os que menos apoiam são Iraque (80% desfavoráveis), Mongólia (78%) e Tailândia (78%).

A pesquisa mostra que países subdesenvolvidos são os que mais concordam com a imigração e os emergentes, os mais contrários – como Equador, Colômbia, Argentina e Brasil. Já parte dos países desenvolvidos é favorável (como Estados Unidos e Canadá) e parte contrária.

Uma breve análise
É normal que tenhamos medo daquilo ou daqueles que não conheçamos bem. Daquilo que é "de fora". Mas esse medo é infundado, equivocado e preconceituoso. Os migrantes estrangeiros vêm buscar oportunidades de vida que não são encontradas em seu país, fugindo de guerras ou de desastres naturais.

Mas muitos também vieram atendendo a um chamado por mão de obra. Sim, esse fluxo migratório responde à demanda por força de trabalho no Brasil. Determinadas ocupações já não são preenchidas apenas por brasileiros, como empregadas domésticas, costureiras, operários da construção civil e de frigoríficos. E há jovens brasileiros de classes mais baixas que não querem ser costureiros ou empregadas domésticas. Preferem se aventurar como atendentes de telemarketing, que é o novo proletariado urbano.

Todos estão produzindo riqueza por aqui. Mas sob a perspectiva mal informada de parte população, contudo, eles vêm "roubar" empregos. Isso quando o preconceito não descamba para o medo de roubo de relógios, joias, carros e casas.

A verdade é que muita gente, do Acre a São Paulo, passando por Brasília, quando questionada, não sabe de onde vem o incômodo que sente ao constatar centenas de haitianos negros chegando e andando pelas ruas. Mas se fossem loiros escandinavos pedindo estada ao contrário de negros, a história seria diferente. Ou seja, para muita gente, o problema é racismo mesmo. Com todas as letras.

Somado, é claro, à sempre presente discriminação por classe social – negros ricos são menos queridos do que tolerados em uma sociedade preconceituosa como a nossa.

O governo federal demora para viabilizar e financiar estruturas de acolhida, apoio e intermediação oficial de mão de obra de modo a evitar a superexploração e o trabalho escravo de bolivianos, paraguaios, haitianos, chineses que acontece em oficinas de costura, canteirs de obras e até pastelarias.

E, ao mesmo tempo, não avançamos com a aprovação da nova lei de migrações. Se bem que, com esse Congresso Nacional que está aí, seria capaz deles acabarem legalizando a escravidão de imigrantes pobres.

Afinal, qual o conceito de "brasileiro"? A história de nosso país é uma história de migrações, de acolher gente de todos os cantos do mundo (não tão bem, é claro – São Paulo, por exemplo, é a maior cidade nordestina fora do Nordeste e, ao mesmo tempo, ostentamos ainda um preconceito raivoso e irracional).

Não podemos esquecer que a maioria de nossos antepassados foi explorada até o osso quando aqui chegou. Pois a esmagadora maioria de nós é descendente de imigrantes. Nossos avós eram os forasteiros que sofriam nas mãos dos estabelecidos. Hoje, somos nós os estabelecidos que criticam os forasteiros.

Com exceção, é claro, dos descendentes de indígenas, que sofreram – e ainda sofrem – um processo lento de genocídio.

Na última contagem disponível, feita pelo Censo 2010 do IBGE, a população indígena era de 896,9 mil, representando 0,47% dos brasileiros. Se todos eles fossem contrários à vinda de trabalhadores estrangeiros, ainda assim sobrariam 49,53% que provavelmente estão dando as costas para a sua própria história ou a de seus antepassados.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.