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Leonardo Sakamoto

Como preparar as escolas brasileiras para receber migrantes e refugiados?

Leonardo Sakamoto

07/05/2016 15h37

Uma criança passava o dia na escola balançando a cabeça para frente e para trás, sem dizer nada, apenas emitindo um repetitivo "tatatatatá". Os educadores da rede pública municipal na Zona Leste de São Paulo pensaram, no início, se tratar de uma criança com algum grau de autismo. Ao visitarem a família, contudo, descobriram que eles, migrantes bolivianos, moravam em uma oficina de costura e a menina apenas repetia o movimento que a mãe realizava diante da máquina, em um longa jornada, bem como seu barulho.

Em outro caso, também na Zona Leste, uma menina ao ouvir o barulho de rojões estourando do lado de fora da escola, imediatamente escondeu-se embaixo da carteira. Minutos depois, estava interagindo normalmente com os coleguinhas. Sua família, que veio refugiada do conflito na Síria (que já matou mais de 270 mil pessoas), morava perto da capital Damasco e convivia com sons de armas e bombas.

O desafio de receber imigrantes que não planejaram sua vinda ao Brasil, sejam eles refugiados de conflitos armados, de desastres ambientais ou geológicos ou os que buscam desesperadoramente uma vida melhor, vai além da autorização de entrada e a garantia de moradia e de trabalho. Passa por preparar o sistema de educação pública para atender as demandas e necessidades dos novos moradores, discutir com eles os direitos e deveres que têm ao viver aqui e preparar a comunidade para entender que uma cultura estrangeira não é melhor ou pior que a nossa, apenas diferente.

É um trabalho longo, que não rende votos (porque lida com um grupo social que sofre profundo preconceito) e nem sempre conta com recursos financeiros e humanos suficientes. A preparação de educadores e gestores públicos para atuarem com esses novos alunos e alunas, que já começa a ocorrer em locais como a capital paulista, deveria ser ação comum durante a formação universitária dos professores, beneficiando todos os municípios onde a migração é uma realidade.

Afinal de contas, uma boa forma de entender como um país respeita os direitos humanos é verificando como ele trata os migrantes pobres.

Entrevistei professores com experiência em educação para alunos migrantes e trouxe um vídeo para vocês em que eles contam essas histórias:

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.