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Leonardo Sakamoto

Havana Connection avalia os primeiros dias do governo Michel Temer

Leonardo Sakamoto

18/05/2016 16h20

O Havana Connection, em sua 18a edição, conversou sobre as polêmicas dos primeiros dias do presidente interino Michel Temer, sobre a resistência e oposição que vem sendo feita ao seu governo e a respeito da necessidade da esquerda refletir sobre seus erros e seu futuro. O programa conta com o coordenador do MTST Guilherme Boulos, o deputado federal Jean Wyllys e a jornalista Laura Capriglione e é mediado por este que vos escreve.

Equipe do filme

Equipe do filme "Aquarius", de Kleber Mendonça Filho, protesta no Festival de Cannes

"Tem uma pobreza de compreensão do que é cultura, como um penduricalho, com algo supérfluo. Michel Temer não reconhece os direitos culturais como direitos humanos", disse o deputado federal Jean Wyllys sobre o rebaixamento do Ministério da Cultura.

"Ele sabe que a cultura e os artistas foram protagonistas na resistência ao impeachment e decidiu se vingar dessa maneira, extinguindo o ministério."

Para a jornalista Laura Capriglione, a mudança de governo foi um "sinal verde" para os conservadores atacarem. "Já temos reintegração de posse de escola sem mandado judicial, ocorreu o tiro em uma sem-teto disparado por um policial militar. Pessoais que se sentiam contidas, já se sentem mais à vontade".

Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), criticou uma entrevista dada por Alexandre de Moraes, novo ministro da Justiça e Cidadania.

"A primeira declaração dele como ministro da Justiça não é 'vou combater a corrupção', 'vou combater o tráfico de drogas'. A primeira declaração dele é 'vou combater os movimentos sociais que fogem à ordem e que são criminosos'." Segundo Guilherme, "crime é o que ele fazia como chefe da segurança de São Paulo, matando e exterminando a juventude negra da periferia".

Sobre a necessidade de reflexão e autocrítica da esquerda, Jean Wyllys lembra que ela terá que construir uma agenda que agregue pautas como direitos LGBT, de mobilidade urbana, do novo movimento estudantil, entre outras, às questões tradicionais da luta de classes. "A esquerda está mais viva do que nunca. O golpe permitiu um diálogo que era difícil com o PT no poder."

"Desde a campanha das Diretas Já, não conseguia ver tanto diálogo dentro da esquerda", diz Laura Capriglione. "As mulheres fizeram, de maneira linda, a transversalidade em todos os movimentos." Segundo ela, estamos em um momento de reinvenção da esquerda. "Não dá para mais ter a ideia de partido que manda e o resto obedece."

Nesse sentido, Guilherme Boulos alerta de avaliar os 13 anos de PT no poder como uma "idade de ouro" em comparação com o governo Temer. "O golpe reflete a falência do sistema politico da Nova República, mas também o pacto social-conservador que o PT manteve, dessa tentativa de que todos ganhem, que todo mundo se entende." Para ele, isso se esgotou.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.