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Leonardo Sakamoto

"Este Congresso não tem credibilidade para definir os rumos do país"

Leonardo Sakamoto

29/07/2016 17h43

A Frente Povo Sem Medo está convocando a população para manifestações, neste domingo (31), em todo o país, para exigir a realização de um plebiscito sobre novas eleições presidenciais. "Este Congresso está desmoralizado e não tem credibilidade para definir os rumos do país. Por isso, defendemos a realização de um plebiscito em que o povo brasileiro aponte se quer ou não novas eleições", afirma Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e um dos articuladores nacionais da Frente, composta por movimentos sociais.

Este blog fez três perguntas a Guilherme Boulos sobre os protestos que, em algumas cidades, devem ocorrer simultaneamente às manifestações convocadas por movimentos que pedem o impeachment de Dilma Rousseff.

A saída para o país não passa nem por Dilma, nem por Temer?

Guilherme Boulos – Na verdade, a proposta é chamar o povo a decidir. A saída da crise política não pode ficar apenas nas mãos dos senadores. Este Congresso está desmoralizado e não tem credibilidade para definir os rumos do país. Por isso, a proposta que defendemos é a realização de um plebiscito em que o povo brasileiro aponte se quer ou não novas eleições. Essa proposta foi defendida inclusive pela própria Dilma como forma de enfrentar o golpe em curso. Os golpistas não têm voto, nem legitimidade social. Por isso temem iniciativas como esta.

Agora, temos clareza de que o debate sobre a antecipação das eleições é insuficiente. O sistema político brasileiro faliu, a Nova República envelheceu e está em pandarecos. É preciso que esse plebiscito coloque também em pauta uma reforma política radical e profunda. Sem isso, permaneceremos neste atoleiro.

Você tem dito que ocorrerão duas manifestações no domingo: uma "Fora, Temer" e outra "Fica, Temer". Na sua opinião, os manifestantes favoráveis ao impeachment querem Temer no poder?

Os grupos que organizaram essas manifestações trabalharam ativamente para levar Temer ao governo. Mas fizeram isso mediante um estelionato: venderam a ideia de que o impeachment era para acabar com a corrupção. O resultado foi inverso, colocaram no poder um grupo envolvido organicamente com os esquemas do Estado brasileiro desde o governo Sarney. Isso certamente desmoralizou estes grupos cuja maioria dos manifestantes que foram às ruas eram contra Dilma.

Muitos realmente acreditaram nessa narrativa furada, que contou com imensa contribuição da mídia. Hoje estão sem rumo e grupos como o MBL ou Vem pra Rua perderam totalmente o discurso. Não têm o que dizer e têm cada vez menos pessoas dispostas a segui-los. Na prática eles são o "Fica Temer" e a mobilização convocada pela Frente Povo Sem Medo representa o "Fora Temer". É isso que estará em jogo no domingo.

Caso o impeachment seja confirmado, qual será a postura dos movimentos sociais diante do governo Temer?

Será de enfrentamento. Se isso ocorrer teremos a consolidação de um duplo golpe no país: um presidente que não foi eleito aplicando um programa que tampouco foi. O governo Temer pode representar um retrocesso de 30 anos para os direitos sociais no país. Reformas de previdência e trabalhista, redução de investimentos em saúde e educação pela PEC do teto de gastos e por aí vai. Querem rasgar a Constituição de 1988, que dizem agora que "não cabe no orçamento".

Na verdade é o projeto deles que não cabe na democracia e por isso só pôde ganhar força através de um golpe institucional. Um programa deste jamais seria eleito. Caso o Senado confirme Temer, a resistência nas ruas deverá se intensificar para barrar esse projeto de terra arrasada. Dia 31 é um momento importante. E será seguido por muitas outras mobilizações.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.