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Leonardo Sakamoto

A iminente invasão da Rússia ao Brasil e o golpe comunista em curso

Leonardo Sakamoto

27/10/2016 17h12

Avisamos ao comitê central dos companheiros revolucionários que a camarada Janaína Paschoal iria, mais cedo ou mais tarde, trair a revolução. Mas o pessoal do Foro de São Paulo e, nele, principalmente, o companheiro russo Putin (que deve estar agora mordendo a língua) garantiram que ela era ponta firme e que levaria a cabo o projeto de impeachment, como uma das autoras da denúncia – passo necessário para a implantação do comunismo no Brasil.

Porém, ao que tudo indica, depois da substituição do governo entreguista, como previa o plano revolucionário, ela desistiu e resolveu colocar a boca no trombone, publicizando de maneira irresponsável os próximos passos.

Quando chequei as últimas da internet, quase tive um infarto do miocárdio. Estava lá, todos os planos que levamos anos para conceber, na conta de Twitter da professora de direito da USP: "Com a construção de uma base militar russa, na Venezuela, uma posição firme do Brasil já não é só questão humanitária, mas de defesa. Putin tem pouco mais de 60 anos, pode ser idoso, pela lei brasileira. Para fins políticos, é um adolescente. Imperialista, ninguém nega. Com uma base militar na Venezuela, Putin está a um passo de atacar o Brasil. Estão rindo? Estou falando sério. Bem típico: fazer a pessoa passar por burra, para que ela se cale. Mas comigo não!"

O camarada Gilmar Mendes mandou uma lista para o nosso grupo de WhatsApp revolucionário, chateado com a declaração. Diz que, com isso, anos de preparação para que a chegada do comunista acontecesse de surpresa foram por água abaixo. E avisou que se cansou do papel que vinha cumprindo a fim de disfarçar a atenção da opinião pública e, a partir de agora, só vai tratar de culinária molecular em suas entrevistas.

E tudo estava tão próximo. O camarada Obama tem reunido, há anos, as 12 lideranças do Foro de São Paulo para planejar a revolução, que viria antes do final de seu mandato. Os 12, como todos sabem, são Obama, Putin, Lula, Mujica, Fidel, Evo Morales, Nicolás Maduro, Cristina Kirchner, Kim Jong-un, Xi Jinping, Papa Francisco e, é claro, Keith Richards.

Vem, Putin, vem!

Vem, Putin, vem!

Tentaram transferir definitivamente essas reuniões para Havana, mas os colegas revolucionários reclamaram, com razão, que Obama, Francisco e Keith Richards terem ido à capital cubana, entre fevereiro e março deste ano, deu na cara demais. Na verdade, a ideia tinha sido de Keith, o único que jogou cartas com Marx pessoalmente e também o único que estará por aqui quando todos se forem.

O plano tem sido perfeito. Ninguém percebeu que enquanto Michel Temer (codinome: Mesóclise) está aplicando golpes na recuada CLT, na burguesa Previdência Social e nos direitos sociais, a fim de ganhar a confiança do mercado, o companheiro Henrique Meirelles está lastreando a economia brasileira com rublos, pesos cubanos, wons norte-coreanos, bolívares venezuelanos e, claro, a grande pa'anga, da ilha de Tonga.

Ao mesmo tempo, os companheiros da Brigada Mao Tsé Tung e, que foram eleitos sob o disfarce de "Bancada Ruralista", estão prontos para votarem a proposta de emenda constitucional que acaba com a propriedade privada no Brasil. E os companheiros da Brigada Mikhail Bakunin, que reúne os deputados que se comportam como fundamentalistas religiosos, preparam um projeto que trata do fim da família no país.

Fico feliz por eles, que devem estar cansados do disfarce que inclui xingar gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis. Dizem que não aguentam mais defender Deus, que chamam de Grande Ópio das Massas.

O companheiro Geraldo Alckmin (codinome: Chuchu) cumpriu o combinado e, através da identidade reativa à violência estatal, conseguiu organizar e mobilizar a população no Estado de São Paulo. Os comitês revolucionários dos outros estados devem ser orientados a copiar o modelo desenvolvido pelo companheiro Alckmin e aplicar a mesma fórmula com o intuito de acordar o povo.

O companheiro Beto Richa vem adotando a fórmula com sucesso no Estado do Paraná, o que levou à sublevação de estudantes.

O Foro de São Paulo está especialmente preocupado com o camarada Lula. Desde que comprou pedalinhos para o sítio em Atibaia, abraçando o pacote simbólico da burguesia brasileira, tem sistematicamente sabotado os planos revolucionários. Dizem que até assinou Netflix.

Portanto, tivemos que acelerar. Em 2014, Dilma foi sedada por um grupo avançado que invadiu o Palácio do Alvorada e levada para um local secreto, onde está sob custódia. Em seu lugar foi colocada a "Moça", que após cirurgias plásticas em Pequim e intenso treinamento, tornou-se uma cópia perfeita, mas "de luta". A "Moça" foi instruída a manter a política entreguista de Dilma até a economia ruir e a aceitar o impeachment.

Enquanto isso, o companheiro Eduardo Cunha (codinome: O Suíço) avançou com um impeachment nas coxas a fim de tornar o país uma bomba-relógio. E, agora, planejou sua própria prisão para articular com o companheiro Palocci (codinome: Trotsky) os próximos passos internacionais da revolução a partir de um local que ninguém imaginaria, a carceragem da Polícia Federal em Curitiba.

O companheiro Michel pediu para avisar ao companheiro Jair Bolsonaro (codinome: Marighela) que ele terá prazo mais do que suficiente a fim de receber o carregamento de armas norte-coreanas do companheiro Kim Jong-un no porto de Santos – graças às boas relações do camarada Michel Temer no porto, elas virão escoltadas por mariners do camarada Obama e ninguém notará.

As armas em território brasileiro facilitarão a vida do camarada Vladimir Putin, pois quando ele atravessar a frágil fronteira entre Santa Helena do Uairén, na Venezuela, e Paracaima, em Roraima, encontrará companheiros e companheiras devidamente prontos, treinados (vocês acreditaram que o campo de paintball no Embu era um campo de paintball?) e instrumentalizados para executar a revolução. Será mais fácil que caçar Pokémon.

A encenação do impeachment manteve a mídia entretida, a elite ensandecida e a população entorpercida. Até Janaína entregar o outro.

Mas, mesmo com os planos abertos, ainda tenho fé.

Adoro quando me dizem que "isso tudo é teoria da conspiração". É sim. Siga na inocência. Mas não diga que não sabia quando a grande bandeira vermelha estiver tremulando na Praça dos Três Poderes.

Com as tripas do último Mickey, enforcaremos o último Muppet. Vai ser duro, porque gosto de Muppets. Mas sacrifícios são necessários.

Atenção: Texto com ironia. Interprete com moderação.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.