Deputado repete que reforma não atinge pobre para ver se ele mesmo acredita
Ou o relator da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, Arthur Maia (PPS-BA), não leu o próprio texto ou acredita que, se parecer convincente, os trabalhadores acreditarão nele. Pois segue na tática de apontar um prato com uma mísero feijão, afirmando que lá há uma bela feijoada.
Repetir seguidas vezes que a Reforma da Previdência não afeta os trabalhadores pobres pode até fazer com que alguns caiam no conto das palavras firmes do parlamentar ou na bela propaganda no rádio e a TV. Mas não mudará a realidade: as mudanças nas aposentadorias afetam sim a vida dos pobres.
Se a imposição de 25 anos de contribuição como tempo mínimo para a aposentadoria de trabalhadores urbanos e rurais e de 15 anos de contribuição para trabalhadores rurais da economia familiar (hoje, basta 15 anos de comprovação de atividade) e a mudança na idade mínima para concessão de auxílio a idosos pobres de 65 para 68 anos não são pancadas nos mais vulneráveis, então a vida do deputado deve ser bastante triste.
Ele, que já manteve aposentadorias especiais para categorias de trabalhadores, não pensa em analisar contrapropostas como adotar o tempo de contribuição mínimo de 15 anos para aposentadoria de trabalhadores urbanos e rurais assalariados com pensões de até dois salários mínimos ou a manutenção da comprovação de atividade de 15 anos para garantir aposentadoria de trabalhadores rurais da economia familiar ou ainda a manutenção do acesso ao benefício para idosos pobres em 65 anos. Pois a expectativa de vida mudou, mas não a empregabilidade de pessoas pobres.
Verdade seja dita, não há muito o que o relator pode fazer além de repetir uma ficção torcendo para que cole como realidade. Estranho seria se, em um rompante de sinceridade, convocasse uma coletiva à imprensa, revelasse tudo o que o governo federal lhe pediu e a quem a reforma realmente beneficia, e depois pegasse um avião para os braços dos seus eleitores.
A Reforma da Previdência precisa de um debate mais aberto, franco e sem pressa para podermos redesenhar, de forma democrática, como será a política de aposentadoria que um Brasil mais velho deverá ter. O governo federal e o Congresso Nacional podem ter se tornado o reino da pós-verdade, mas não podem esperar que a população ignore o que estão querendo aprovar e grite amém.
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