À beira do abismo, governo pira e estuda confisco de FGTS de desempregados
A proximidade com o abismo está levando o governo Temer a perder o pouco pudor que ainda lhe restava com relação aos direitos de trabalhadores e a considerar soluções estapafúrdias. A última: estuda confiscar temporariamente parte do FGTS dos demitidos sem justa causa para, numa pedalada fiscal com a bicicleta alheia, ajudar a fechar as suas contas.
A bizarra ideia, em discussão no Ministério do Planejamento, funcionaria da seguinte forma: o trabalhador demitido sem justa causa não poderia mais sacar de forma imediata o valor integral de sua conta de FGTS, nem a multa de 40%. Também não poderia ter acesso ao seguro-desemprego logo de cara. O governo liberaria, por três meses, um valor de sua conta de FGTS semelhante ao do último salário recebido.
Se ele conseguir um emprego antes de três meses após a demissão, poderá pedir o saque do total do saldo do FGTS e da multa de 40%. Se não conseguir emprego após três meses, será autorizado a pedir o saque do saldo E a solicitar o benefício do seguro-desemprego.
Ou seja, a pessoa terá que sobreviver com os recursos de parte do seu próprio FGTS e não do seguro-desemprego nesse trimestre.
Com a medida em estudo, revelada pelo jornal O Globo, o governo Temer quer economizar no pagamento do benefício aos desempregados para ajudar a fechar as contas públicas dentro de sua meta apresentada ao mercado. Já que não pode usar o dinheiro das contas do FGTS, que pertencem aos trabalhadores, quer reduzir a saída do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), de onde vem os recursos do seguro-desemprego. Dessa forma, faz o que sabe fazer de melhor: jogar o custo da crise no lombo dos mais pobres e da classe média.
O governo Temer parece que faz de tudo para se equiparar ao governo Collor. Não apenas pela baixa popularidade – pesquisa Datafolha, divulgada neste sábado (24), aponta que Temer conta com avaliação 7% de ótimo e bom, menor que o pior índice de Collor (9%) e melhor apenas que o de Sarney (5%). Mas também por medidas que parecem não se preocupar com a qualidade de vida da população. Assim como o presidente cassado e hoje senador, Temer estuda sua forma de confisco de recursos privados.
Em 6 de março de 1990, ao assumir como primeiro presidente eleito após a ditadura, Fernando Collor anunciou um pacote medidas econômicas, incluindo o confisco dos depósitos bancários e das cadernetas de poupança.
O primeiro Plano Collor restringiu os saques a um montante de 50 mil cruzados novos (moeda da época), sendo que o saldo restante ficaria retido por 18 meses. Em 30 de julho daquele ano, o presidente assinou uma portaria autorizando o início da devolução do dinheiro a partir de 15 de agosto, em muitas parcelas mensais.
Preocupado com as crises política e econômica, que podem custar seu emprego (e, consequentemente, sua liberdade, uma vez que ele e seus aliados estão envolvidos em escândalos de corrupção), Temer tem pedido, insistentemente, paciência e apoio ao setor empresarial.
Jura que vai entregar as Reformas Trabalhista e da Previdência, conforme prometido. Mesmo que isso custe perda de qualidade de vida aos trabalhadores.
É uma versão atualizada do "Não me deixem só!", frase que se tornou icônica a partir de pronunciamento na TV do então presidente Fernando Collor de Mello, em 21 de junho de 1992, quando ele negou relação com o esquema de PC Farias. Como todos sabem, o pedido, que completou 25 anos na quarta, não deu certo.
Não à toa, a mesma pesquisa Datafolha aponta que 76% da população defende que ele renuncie, 81% quer abertura de processo de impeachment e 83% querem Diretas Já.
O Brasil está de volta aos anos 90. E seu governo, que prometeu uma "Ponte para o Futuro", entregou um "Viaduto ao Passado".
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