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Leonardo Sakamoto

Nova ocupação com 6 mil famílias é fruto do desemprego, afirma MTST

Leonardo Sakamoto

12/09/2017 17h58

Fotos: Gica TV/MTST

Cerca de seis mil famílias ocupam uma área de 70 mil metros quadrados em São Bernardo do Campo (SP) desde a madrugada do dia 02 de setembro. Inicialmente, eram 500 famílias que chegaram ao terreno, em um bairro central, vizinho de condomínios de alto padrão, no município do ABC paulista. Mas o fluxo de gente não parou desde então e a imagem dos barracos de lona enfileirados impressiona. Os números são do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que organiza a ocupação.

"A área estava vazia antes, não tinha nada. Agora ela está cumprindo uma função social, conforme pede nossa Constituição", afirma Maria das Dores Cerqueira, 47 anos, uma das coordenadoras do movimento.

Confeiteira desempregada ("pela minha idade, o mercado de trabalho não quer pegar mais eu, não"), ela conta que o déficit habitacional no município é de mais de 92 mil famílias. E que o tamanho da mobilização é devido, em grande parte, à situação do país.

"O agravamento da crise econômica, o desemprego e a piora da situação social estão criando um verdadeiro barril de pólvora nas periferias urbanas", afirma Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST. "Porque as pessoas, quando ficam desempregadas, não conseguem mais pagar o aluguel. Há milhares, no Brasil todo, sem alternativas, sofrendo despejos individuais. Não resta outra alternativa a essas famílias do que se organizarem e ocuparem."

Segundo ele, isso ocorre em todo o país. "O aconteceu em São Bernardo, aconteceu em Guarulhos, algum tempo atrás, em outra ocupação gigantesca."

A MZM Incorporadora, proprietária do terreno, conseguiu uma ordem de reintegração de posse. O juiz Fernando de Oliveira Ladeira, da 7ª Vara Cível de São Bernardo, autorizou a reintegração de posse da área e a desocupação do terreno. Os advogados do MTST entraram com um recurso e esperam uma nova decisão judicial.

Os ocupantes prometem ficar. Este blog tentou contato com a incorporadora, mas não conseguiu até a publicação deste post.

"A Prefeitura até já tinha notificado o proprietário porque o terreno não cumpria função social. A gente vai resistir sim", afirma Maria das Dores. Ela reclama da guarda civil municipal que estaria fazendo papel de polícia, causando constrangimentos para quem entra com carro para levar mantimentos e água aos demais.

"A decisão judicial é irresponsável porque não considera a situação das famílias, sem dar alternativas de moradia, simplesmente determinando que a polícia cumpra uma reintegração num terreno que estava abandonado há mais de 30 anos", afirma Boulos.

Para ele, isso é grave e pode gerar conflitos de grandes proporções – uma alusão à violenta desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos, em janeiro de 2012. "O movimento quer uma saída pacífica e negociada, mas isso passa por colocar na mesa a solução do problema habitacional daquelas famílias. O caso deve ser tratado como de política pública e não de polícia."

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.