Petrobras: quem combate a corrupção também toparia lutar por empregos?
Fundamental a investigação sobre a corrupção envolvendo empreiteiras, políticos e a Petrobras. Por isso, espero que ela resulte em julgamento e punição dos envolvidos. Mas, não raro, o tema acaba ofuscando outros graves problemas acumulados ao longo dos anos na empresa – que possui um faturamento anual maior do que o PIB de dezenas de países. Encobre, por exemplo, a questão dos empregos gerados pela empresa em território nacional.
Tratei do assunto aqui antes e acho que vale a pena resgatar o que escrevi. Tem sido comum ouvir reclamações de escritórios brasileiros de engenharia que costumavam prestar serviços para a Petrobras e, agora, estão vendo as encomendas rarearem e, consequentemente, dispensando pessoal. Uma das razões, segundo representantes de empresas ouvidos por este blog, seria a crescente utilização de prestadores de serviços em engenharia no exterior.
De acordo com a Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), diretores da multinacional brasileira já afirmaram que a empresa não possui a mesma experiência que demonstra com a produção de petróleo na construção de unidades de refino, por exemplo. Daí a necessidade de parcerias internacionais. A justificativa foi rechaçada pela associação e por engenheiros ouvidos por este blog que participaram da construção de outras refinarias da empresa e afirmam que o país tem competência técnica para tanto.
Uma das funções sociais da Petrobras é gerar tecnologia aqui para desenvolver capacidade técnica e projetos sintonizados com a realidade brasileira. Graça Foster aprofundou a política de encomendar projetos para o exterior (notadamente China, Coreia e Índia) que já existia quando Sérgio Gabrielli era presidente da empresa.
Nos três países citados acima, o custo de mão de obra no setor de serviços é mais baixo que no Brasil – mas a proteção ao trabalhador é menor. E isso reflete no valor final de um projeto.
No ano passado, quando fiz essa apuração, este blog enviou duas perguntas específicas à Petrobras para buscar entender essa política: 1) Confirmar a informação de que parte do projeto da terceira fábrica de fertilizantes nitrogenados da Petrobras (UFN III) estava sendo desenvolvido por um escritório de engenharia fora do país; 2) Em caso afirmativo: se não havia escritório de engenharia dentro do país com capacidade para executar o projeto com mão de obra brasileira? Na época, a empresa informou que não iria se manifestar sobre o assunto.
É claro que cada caso é um caso e a escolha por usar parceiras internacionais depende do nível de tecnologia do qual dispõe o país em diferentes áreas.
Mas é estratégico para o Brasil o desenvolvimento de tecnologia própria e de empregos com alto nível de especialização, mesmo que isso – no curto prazo – tenha um custo. Como empresa de capital misto, a Petrobras deve responder aos seus acionistas e fazer valer o investimento realizado. Mas, ao mesmo tempo, o critério de resultado econômico global não deve ser o único analisado no momento em que se decide quem fará um projeto porque o povo brasileiro também é proprietário de uma parte considerável da empresa.
Infelizmente, esse assunto nem sempre aparece nas discussões sobre a Petrobras. Para muita gente, o único objetivo da empresa deveria ser garantir rentabilidade aos acionistas. O impacto na vida dos trabalhadores é tema acessório.
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