Se o mundo consumisse como os EUA, uma Terra seria pouco
Estive hoje de manhã no seminário Diálogos Capitais – Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental, organizado pela revista Carta Capital, que reuniu sociedade civil, governo e iniciativa privada. Apresentei o caso do trabalho escravo nas cadeias produtivas do carvão vegetal e da carne bovina (que têm consumido a Amazônia) e o que tem sido feito para combatê-lo pelos três atores descritos acima, no painel sobre Responsabilidade Social Empresarial e Cadeias de Valor.
Também fizeram parte do painel, Rosângela Bacima, do Grupo Pão de Açúcar, que trouxe a experiência que vem sendo introduzida pelo hipermercado Extra de controle sobre a cadeia produtiva da carne que ele oferta, tanto do ponto de vista do produto quanto do seu processo de produção, através da atuação junto aos fornecedores. E Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra, que apresentou o andamento da implantação de um sistema de certificação agropecuária, que deve contribuir com a adequação de cadeias produtivas, como a da pecuária bovina, às normas sócio-ambientais.
Mas vou me focar em outro ponto, levantado pela moderadora Marilena Lazzarini, do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). Segundo ela, a exploração humana já extrapolou a capacidade de renovação dos recursos naturais do planeta, sendo que apenas um quarto da população do mundo é responsável pelo consumo da maioria dos seus recursos naturais. Em outras palavras se o padrão de vida norte-americano for estendido a toda a populaçao da Terra, precisaremos de outros planetas idênticos para atender à demanda.
Já disse em outras oportunidades, aqui neste blog, que precisamos de uma mudança drástica em nosso comportamento de consumo. Economias como a brasileira, a russa, a indiana e a chinesa (os chamados BRICs) crescem rapidamente. Milhões de pessoas são inseridas anualmente em suas classes médias e, portanto, na categoria de consumidores relevantes. Enquanto isso, a Terra já pediu socorro através das alterações climáticas globais que, infelizmente, são irreversíveis e transformarão a face do planeta que nossos filhos vão herdar. Sem hipocrisia, a discussão agora é pensar em como diminuir o impacto disso e tornar o sofrimento de bilhões de pessoas menor e mais aceitável.
O ato de compra é um voto dado a uma determinada maneira de fazer um produto. Quando adquirimos algo estamos concordando com o que aquilo representa. Que pode incluir desmatamento, poluição do ar, da terra e da água, trabalho escravo, infantil e degradante, e por aí vai. Temos como fazer opções, é só ir atrás de informação – que existe e está disponível.
É interessante o alcance que atinge a dicussão sobre a pirataria de produtos, que representam sonegação de impostos, perda de ganhos para as empresas e, às vezes, produtos de baixa qualidade. Interessante porque, ao mesmo tempo, o alcance da discussão sobre o consumo consciente (comprar o que é realmente necessário e o que não agride a sociedade e o meio ambiente) é limitado. Muitas empresas sabem o mal que fazem suas ações, mas… são negócios! Não estão nem aí, querem que índios, quilombolas, trabalhadores, florestas explodam, contanto que o lucro continue a fluir aos seus cofres. Esse comportamento tem na administração George W. Bush (que se nega a aderir a acordos internacionais para diminuir o impacto das mudanças climáticas, apoiado por empresas dos Estados Unidos) um dos seus símbolos mais bem acabados.
Uma mudança real passa por ações pesadas por parte de indústrias e governos, sim, claro. Mas essa alteração de curso só vai ser sustentável se estiver embasada em alterações de comportamento da sociedade. Aquele badulaque comprado à toa, seja por impulso, seja por vaidade, ou aquele monte de sacos plásticos que você pega no supermercado fazem sim diferença.
O que você tem feito, além de se lamentar, para mudar?
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