Os Estados Unidos e o blá-blá-blá contra a pirataria
Eric Holder, secretário de Justiça dos Estados Unidos, conclamou ao Brasil que aumente os esforços no combate à pirataria de softwares, vídeos, músicas, produtos eletrônicos. Ontem, em evento no Rio de Janeiro, disse que o "roubo de propriedade intelectual" é uma ameaça à segurança nacional de seu país.
De tanto ouvir e ver propagandas em rádios, TVs e cinemas que fazem o consumidor sentir-se um pedaço de lixo, financiador do tráfico de drogas, responsável pelo desemprego e pela fome no mundo, por não se atentar à origem dos CDs e DVDs que compra, creio que se faz necessária uma pergunta: empresas de software, gravadoras e a indústria do entretenimento em geral, muitas delas com sede nos Estados Unidos, aplicam o mesmo terror em suas relações comerciais?
Inexiste, por parte de muitas delas, uma política para evitar a compra de equipamentos eletrônicos (utilizados na criação de programas, gravação de músicas, filmagens de películas) que contêm crimes contra a humanidade e o meio ambiente em seu processo de fabricação. As únicas restrições que impõem são: que o produto tenha preço baixo e a qualidade técnica desejada. Enquanto isso, a indústria de aparelhos eletrônicos consome proporções cada vez maiores de minérios preciosos e raros encravados pelo mundo. Muitos desses metais são extraídos em minas de países pobres nas quais trabalhadores, crianças e adultos, enfrentam condições aterradoras. Ou comunidades são removidas para dar mais espaço para a mineração. Fora a contaminação da água e a poluição do solo.
Alguns vão dizer que é ilegal baixar músicas e copiar DVDs, mas comprar de quem escraviza e desmata para a produção de matéria-prima não. A resposta sobre o porquê de o mundo ser assim reside no fato de que, historicamente, as leis criadas para proteger a propriedade e o lucro são mais severas e efetivas do que as que foram implantadas para defender a vida e a dignidade. Por isso, não me surpreende que, durante a visita ao Rio, a redução de danos sobre impactos causados pelo consumo norte-americano ao redor do planeta não tenha sido uma das pautas.
Se o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e parte da poderosa indústria da informação e do entretenimento não podem comprovar para o consumidor comum de que o seu processo de produção é social e ambientalmente responsável, como é que eles vão exigir responsabilidade de nós?
A provocação não é uma apologia à pirataria, mas sim um saudável chamado à reciprocidade e à responsabilidade.
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