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Leonardo Sakamoto

Por eleições, PF não deve fiscalizar trabalho escravo em outubro

Leonardo Sakamoto

28/09/2010 21h20

A Polícia Federal, sob a justificativa de priorizar o processo eleitoral, não deve participar das operações de verificação de denúncias de trabalho escravo no mês de outubro.

Delegados e agentes da instituição (ligada ao Ministério da Justiça) compõe, junto com o Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério Público do Trabalho, os grupos móveis de fiscalização, responsáveis por libertar trabalhadores encontrados em condição de escravidão contemporânea.

A priorização das eleições é prevista em lei. Então, considerando que a opção por não participar das operações se dá por falta de efetivo policial, temos uma situação em que a polícia judiciária da União tem que escolher entre a) garantir segurança às eleições e b) dar apoio à fiscalização de trabalho escravo. Duas finalidades importantes e que dizem respeito à efetivação da cidadania e à garantia dos direitos fundamentais em território brasileiro. Portanto, tarefa para o qual o Estado brasileiro deveria estar devidamente preparado.

O trabalho de fiscalização pode ser arriscado em regiões como a fronteira agrícola amazônica e a presença da polícia é fundamental. Vale lembrar que quatro funcionários do Ministério do Trabalho e Emprego foram emboscados e assassinados em 28 de janeiro de 2004 em Unaí (MG) durante fiscalização em fazendas da região. Eles estavam sem proteção policial.

O governo federal está tentando resolver o entrave gerado pela falta de agentes da PF para manter as fiscalizações. A ver.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.