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Leonardo Sakamoto

Quem torce para Carminha e Nina ao mesmo tempo? Financiadores de campanha, ora!

Leonardo Sakamoto

06/09/2012 08h04

Você torce para o Batman e, ao mesmo tempo, para o Bane? Para o Superman e o Lex Luthor? Para o glorioso Palmeiras e o nefasto Corinthians? Consegue torcer para a Carminha e para a Nina?

Os grandes doadores de campanha, sim. Grandes empreiteiras e bancos, por exemplo. Vendo as prestações de contas dos candidatos em eleições anteriores no site do Tribunal Superior Eleitoral, é possível constatar que eles promovem a festa da democracia. Pois colocam recursos em diferentes campanhas. Apostam, portanto, no cavalo vencedor, não importando quem seja. Nesta campanha, não será diferente.

Teoricamente, o ato de doação é um indício de que o doador comunga das propostas do candidato, deseja que ele o represente politicamente, seja por suas idéias, seja por sua classe social ou quer criar com ele um vínculo por meio desse apoio em campanha. Alguns eleitos mantém apenas diálogos cordiais com os financiadores (do tipo, "obrigado, mas fiquemos a uma distância de segurança para não pegar mononucleose"), outros literalmente "pagam" através de serviços prestados. Não é um pagamento retroativo, mas um que garanta a continuidade do financiamento amanhã.

Já disse isso anteriormente neste blog: que tal os eleitos com recursos de empreiteiras serem impedidos de participarem de comissões e quaisquer ações nas Câmara dos Vereadores que envolvam discussão ou fiscalização das obras? Se me permitirem radicalizar, outra opção seria tornar mais transparente a participação de doadores de campanha em licitações públicas. No mínimo, que o cidadão seja informado disso. Adoraria ver naquelas placas de obras, logo abaixo do valor do contrato, um selinho como "Empresa doadora de campanha que elegeu o(a) atual prefeito(a)".

Há aqueles candidatos, de diferentes partidos, de progressistas a conservadores, que não aceitam doações de pessoas jurídicas. São chamados de idiotas porque não teriam percebido que o mundo é outro e não se faz política sem muito dinheiro e sem empresas fluindo rios de recursos.

É outro porque nós permitimos que as eleições se tornassem um turfe. Ou melhor, uma grande mesa de fundos de investimentos futuros. Ou viramos o jogo, o que inclui uma discussão mais séria sobre financiamento de campanha ou continuará sendo muito difícil encontrar alguém que ganhou uma eleição sem compromissos a serem quitados neste país.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.