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Leonardo Sakamoto

Enquete: Comentários são dispensáveis, preconceituosos e não mudam opinião

Leonardo Sakamoto

01/11/2013 15h33

Os comentários em textos e posts na internet são dispensáveis, não mudam a opinião e acirram ânimos e mantém preconceitos. Pelo menos é o que apontou uma enquete sem critério científico algum que lancei, há dez dias, neste blog. A maioria dos leitores que respondeu acredita que comentários que cometem crimes de ódios devem ser deletados, ao passo que os que contrariam a opinião do autor do texto precisam ser mantidos.

O que opinaram não publicam comentários e, dentre os que publicam, a maior parte usa seu nome real. A internet levou os que responderam a enquete a participarem de debates, uma vez que nunca haviam enviado cartas para jornais e revistas antes de usarem a rede. Eles se dividem entre os que avaliam os comentários como mais conservadores que o restante a sociedade e os que crêem que estes trazem a opinião geral.

Sei que não é possível tirar nenhuma avaliação definitiva a partir desses números. Mas eles fazem crer que a maioria dos leitores não gosta da sujeira deixada por trolls e outros comentaristas que, escondidos pelo anonimato da rede, não discutem construtivamente, preferindo tocar o terror em uma tentativa de fazer com que aquele espaço de reflexão deixe de existir ou porque gostem mesmo de fazer cocô de porta aberta.

Reforço, entretanto, que a interação trazida pela via de mão dupla dos comentários, que criticam, corrigem, somam, subtraem, multiplicam, dividem, elevam, é inestimável. O lugar estático, até agora autoconsiderado sagrado e irretocável, do produtor de informação, dá lugar a um cotidiano de trocas muito rico. Com o tempo e a percepção do que significa se expressar na rede e em rede, creio que o comportamento dos que rosnam fora da casinha pode mudar. Estamos apenas começando a colocar em prática as possibilidades de diálogo e de construção coletiva trazidas pela internet. Ou seja, devemos ter cuidado para não jogar o bebê fora com a água suja do banho.

Vamos aos resultados:

Como você avalia, na maioria das vezes, o nível dos comentários na internet?

Dispensáveis: 83,44%
Essenciais: 14,15%
Não tenho opinião: 2,41%
Total 5.385 votos

Alguma vez você já mudou sua opinião sobre um texto ao ler os comentários sobre ele?

Não: 57,08%
Sim: 42,92%
Total 4.946 votos

Qual o principal tipo de comentário que deveria ser moderado?

Os que cometem crimes de ódio: 45,63%
Os que ofendem outras pessoas: 16,92%
Os que usam de violência no debate com outros comentaristas: 15,31%
Os que tratam de assuntos que não têm relação alguma com o post: 9,99%
Os que usam o espaço para promoção pessoal (tipo, Vendo Fusca 76): 9,93%
Os que ofendem o blogueiro e sua a mãe: 1,85%
Os que vão contra a opinião do blogueiro: 0,37%
Total: 4.806 votos

Como você publica um comentário?

Não publico comentários: 38,06%
Com seu nome real: 28,28%
Com perfil do Twitter ou Facebook: 26,68%
Anonimamente, com nome falso ou apelido: 6,97%
Total 4.632 votos

Antes de usar a internet, você já tinha enviado cartas para jornais ou revistas?

Não: 77,44%
Sim: 22,56%
Total 4.397 votos

Você acha que a maioria dos comentários em textos na internet:

São mais conservadores que a sociedade: 48,38%
Refletem a opinião da sociedade: 45,13%
São mais progressistas que a sociedade: 6,5%
Total: 4.432 votos

Você acha que:

Os comentários contribuem com o acirramento de ânimos e a manutenção de preconceitos: 57,55%
Os comentários ajudam no debate: 42,45%
Total: 4.497 votos

Posição da enquete no dia 01/11/2013, às 15h. 

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.