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Leonardo Sakamoto

Penso, logo existo. Uma banana não pensa, logo uma banana não existe

Leonardo Sakamoto

28/07/2015 11h37

É triste que pessoas formem opinião através de sofismas e falácias. Isso é resultado de falhas não apenas na educação formal, mas também da falta de vivência coletiva e do conhecimento do outro – coisas que não se aprendem no banco da escola.

Mas é assustador que sofismas e falácias sejam usadas nas tribunas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em Assembleias Legislativas e Câmaras dos Vereadores, como justificativa para aprovação de leis.

Vamos a alguns exemplos:

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É impossível gerar filhos a partir de duas mulheres ou dois homens. Portanto, casais homossexuais são uma aberração.

Com 16 anos, jovens podem votar. Então, com 16 anos também podem ser punidos como adultos.

Os sem-teto ocupam imóveis que não são deles. Portanto, podem ocupar a casa onde moro a qualquer momento.

Não se ouvia muitas histórias de violência na época da ditadura. Logo a vida era mais segura naquela época.

Se índios usam celulares e computadores, que não coisas da cultura deles, logo já não são mais índios.

As mulheres recebem salários menores que os homens. Portanto, elas são menos competentes do que eles.

Eu não sou racista e ninguém que conheço é racista. Então, não existe racismo no Brasil.

Para enriquecer, é só trabalhar duro. Quem é pobre, é que não trabalha o suficiente.

Há corruptos no governo. E o governo é de esquerda [olha, não é não, mas prossigamos]. Logo, toda a esquerda é corrupta.

Há golpistas na oposição. E a oposição é de direita [também não é tão simples]. Logo, toda a direita é golpista.

Antes havia menos gays nas ruas. Agora os gays se beijam em público. Logo, gays se beijando em público fazem as pessoas virarem gays.

Ele trabalhou desde muito pequeno e se deu bem na vida. Logo, o trabalho infantil faz bem às crianças.

A polícia prende mais jovens negros. Logo, jovens negros são bandidos.

Quais desses pensamentos enlatados, de falsa relação de causa e consequência, você já comprou e revendeu? Não é uma crítica aonde se quer chegar, longe disso – que cada um tenha sua opinião. Mas ao caminho tortuoso que levou até lá…

Aviso para quem leva a vida muito a sério: o uso de Descartes foi uma piada. Já o uso da banana, não.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.