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Leonardo Sakamoto

Preciso ser honesto: Há realmente um golpe comunista em curso no Brasil

Leonardo Sakamoto

05/04/2016 17h32

O papa Francisco e o camarada Fernando Henrique me mandaram em uma missão especial: levar as determinação do Foro de São Paulo para o camarada Obama. Creio que nosso encontro em Havana, para entregar as ordens bolivarianas, foi menos suspeito do que o último no Salão Oval.

E acabei matando dois coelhos com apenas um golpe de foice e outro de martelo, pois passei também a parte das instruções para os camaradas do Grupo Revolucionário 18 do Brumário. Eles também estiveram na ilha poucos dias depois do camarada Obama sob seu disfarce de banda de rock capitalista e decadente.

Mas como Keith Richards é o único que jogou cartas com Marx pessoalmente e também o único que estará por aqui quando todos se forem, não há como questionar suas escolhas e melodias.

O plano tem sido tão bem feito que ninguém percebeu que Joaquim Levy (codinome: Grande Vara) e Nelson Barbosa (codinome: Sem Dó) são nossos. Os ministros da Fazenda aplicaram golpes na recuada CLT a fim de ganhar a confiança do mercado. Depois, irão lastrear a economia com rublos, pesos cubanos, wons norte-coreanos, bolívares venezuelanos e, claro, a grande pa'anga, da ilha de Tonga.

Enquanto isso, o companheiro Eduardo Cunha lançou polêmicas para a mídia se distrair. Ao final do seu mandato, contudo, entrará com a proposta de emenda constitucional que acaba com a propriedade privada no Brasil.

Foi uma pena, portanto, que as contas na Suíça, abertas para financiar a revolução com recursos da Petrobras, foram descobertas antes do prazo. Mas o grosso dos valores já haviam sido direcionados a Pyongyang.

Os companheiros da Brigada Mikhail Bakunin, que foram eleitos sob o disfarce de "Bancada Evangélica", estão ansiosos tanto para votarem a PEC quanto para poder parar de falar mal de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis. Dizem que não aguentam mais defender Deus, que eles chama carinhosamente de Ópio das Massas.

O companheiro Beto Richa cumpriu o combinado e, através da identidade reativa à violência estatal, conseguiu organizar e mobilizar os professores e servidores públicos no Estado do Paraná. Os comitês revolucionários dos outros estados devem ser orientados a copiar o modelo desenvolvido pelo companheiro Beto e aplicar a mesma fórmula com o intuito de acordar o povo.

O companheiro Geraldo também está tendo sucesso com a parte do plano que prevê um levante na periferia da capital paulista usando a velha técnica de exterminar a população jovem e negra por intermédio de ações de policiais militares.

O Foro de São Paulo está especialmente preocupado com o ex-camarada Luiz Inácio. Desde que comprou o triplex e o sítio em Atibaia, abraçando o pacote simbólico da burguesia brasileira, tem sistematicamente sabotado os planos revolucionários.

Portanto, tivemos que acelerar. Dilma foi sedada por um grupo avançado que invadiu o Palácio do Alvorada e levada para um local secreto, onde ficará sob custódia. Em seu lugar foi colocada a "Moça", que após cirurgias plásticas em Pequim e intenso treinamento, tornou-se uma cópia perfeita, mas "de luta".

Porém, como ela estava bem acima do peso da mandatária (que, de uma hora para a outra, resolveu fazer a dieta Ravenna), tiveram que proibir aparições públicas da "Moça" por algumas semanas, até que ela perdesse massa corpórea.

A "Moça" está instruída a manter a política entreguista de Dilma por mais seis meses. É prazo mais do que suficiente para que o carregamento de armas norte-coreanas do companheiro Kim Jong-un chegue incólume a Santos (graças às boas relações do camarada revolucionário Michel Temer no porto) escoltadas por mariners do camarada Obama.

A encenação do impeachment está mantendo a mídia entretida, a elite ensandecida e a população entorpercida. Mal sabem eles.

Com as tripas do último Mickey, enforcaremos o último Muppet. Vai ser duro, porque gosto de Muppets. Mas sacrifícios são necessários.

(Relato atualizado, revisto e republicado sob orientação do camarada revolucionário Keith Richards Ler ouvindo Sympathy for the Devil.)

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.