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Leonardo Sakamoto

Partido de Temer quer mudar de nome. Sugiro "Tomaladacá"

Leonardo Sakamoto

16/08/2017 16h58

Foto: Sergio Lima/Poder 360

Agora vai!

A federação patrimonialista de interesses fisiológicos que atende pela alcunha de PMDB está planejando se rebatizar como MDB (Movimento Democrático Brasileiro), nome que ostentou até dezembro de 1979.

Naquele momento, o país dava adeus ao bipartidarismo que vigorou na ditadura. Ao mesmo tempo, a Arena, partido de apoio ao governo civil-militar, tornou-se PDS, de onde brotou o PFL, que também se rebatizou, em 2007, como DEM (Democratas).

Planejam mudar a graça da criança em setembro, quando ocorrerá convenção partidária. Se confirmada, a mudança se somará a outras alterações cosméticas como a do PTN, que virou Podemos – ato que foi considerado uma afronta pelo Podemos espanhol, à esquerda da cópia tupiniquim. E o "ecológico" PEN, que pode virar Prona ou Patriotas.

Mudar o nome de algo para tentar ludibriar o cidadão ou o consumidor e deixar para trás um passivo de problemas é corriqueiro na política e no mundo empresarial. Vale lembrar que a Telefonica, que acumulou montanhas de reclamações, resolveu assumir o nome de uma de suas marcas, tornando-se Vivo.

Porém, se uma mudança não vem acompanhada de alteração da qualidade do que é oferecido à população, o golpe de marketing dá chabu. É como jogar purpurina em cima de um montinho de cocô. Pode até brilhar, mas continuará fedendo. Se achou a comparação escatológica, vale citar a segunda cena do segundo ato da peça Romeu e Julieta, do inglês William Shakeaspeare: "Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume".

Seja PMDB ou MDB, continuará tendo o mesmo "cheiro".

Ao que tudo indica, o partido não está pensando em fazer uma grande autocrítica interna e, a partir de uma profunda reflexão, abandonar antigas práticas políticas. Até porque isso significaria uma implosão. É mais fácil que os políticos e militantes éticos e honestos deixem a agremiação diante do que ela passou a representar. Ou o tal do camelo passar pelo tal buraco da agulha.

Um partido que já foi a base da luta pela redemocratização do país e reuniu muita gente que almejou um futuro melhor para a sociedade, hoje se tornou um mercado a céu aberto de parlamentares e uma grande máquina de tomaladacás visando à aprovação de leis. Um monstrengo sem ideologia definida ou projeto claro para o país, que não parece se importar em retirar direitos do povo para manter privilégios dos mais ricos, muito menos em assaltar os cofres públicos à luz do dia, seja em emendas e cargos, seja em perdões de dívidas concedidas a seus próprios parlamentares. Tudo com o objetivo de manter uma cúpula envolvida em denúncias de corrupção, a salvo, no poder.

Ao menos, ninguém no partido teve a ideia de abrir uma licitação para vender os "naming rights", como acontece em arenas de futebol. Por exemplo, PMDB-Odebrecht ou PMDB-JBS. Pensando bem, isso seria um tanto quanto redundante.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.