Ricos apostam que governo Bolsonaro será mais submisso que o de Temer
Parte do empresariado, bem como de seus executivos e gestores, vê um governo Jair Bolsonaro como um aprofundamento do governo Michel Temer no que diz respeito ao atendimento de seus desejos.
Um naco do poder econômico deu a benção e apoiou a troca no comando da República, através do impeachment, em 2016, diante da possibilidade de um grupo político mais amigável controlar o Palácio do Planalto. Não que o governo do PT não tenha sido uma mãe para o grande capital, mas o seguinte conseguiu ser mais do que mãe. Foi avó.
Desde então, muitas reivindicações foram atendidas: de alterações legislativas que barateiam o custo da mão de obra (e precarizam o emprego), como a Reforma Trabalhista e a Lei da Terceirização Ampla, passando pelo trâmite de projetos que reduzem as exigências de licenciamento ambiental e facilitam a liberação de agrotóxicos até a publicação da malfadada portaria que dificultava a libertação de pessoas escravizadas.
De forma semelhante, uma parte do mercado apoia Bolsonaro por que vê nele a possibilidade de acelerar o curso dessas mudanças, adotando políticas neoliberais. Quer continuar com seus gordos subsídios e com perdões de juros e multas de suas dívidas com o poder público. Mas também quer menos fiscalização de problemas trabalhistas, ambientais e fiscais. Ou seja, um Estado-pelúcia para chamar de seu.
(E, convenhamos, um governo autoritário sempre ajuda nessas horas. O finado Augusto Pinochet, ex-ditador do Chile, que o diga.)
Aos empresários, Bolsonaro prometeu, na sabatina realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), redução do Estado e de impostos, defendeu a privatização e a manutenção da Reforma Trabalhista e disse que aceita fazer mudanças no sistema de aposentadorias.
Mesmo que, enquanto deputado federal, tenha criticado a Reforma da Previdência, apoiado a greve de caminheiros (que levou ao desespero muitos empresários presentes no evento) e seu nacionalismo exacerbado seja contrário à globalização e à privatização de empresas.
Apesar de andar com Paulo Guedes, um economista neoliberal, à tiracolo na campanha eleitoral, seu passado tende a trazer desagradáveis surpresas ao mercado já no dia seguinte às eleições. Afinal, pode aparecer de tudo. Inclusive uma banana a certas demandas dos ricos apoiadores. Principalmente, se ele garantir a tal governabilidade através das bancadas ruralista, do fundamentalismo religioso e da segurança pública e comprar o resto no varejo. Até porque contará com metade da Esplanada dos Ministérios preenchida com generais para lhe "garantir" estabilidade.
"O trabalhador vai ter que decidir se quer menos direitos e emprego, ou todos os direitos e desemprego", afirmou o candidato do PSL na mesma sabatina. Essa falsa dicotomia é música aos ouvidos da plateia, pois joga o risco do empreendimento apenas nas costas dos empregados.
(O mais triste é que há trabalhador e pequeno empresário que dançam ao som dessa canção, como alguém que fica feliz com o ensaio de seu próprio funeral.)
A questão é que a Constituição Federal de 1988 definiu, em seu artigo 3o, que tanto o desenvolvimento econômico quanto a promoção dos direitos sociais são objetivos fundamentais da República. Não é aceitável avançar um sem o outro.
E após conhecer a efetivação de alguns direitos nos últimos 30 anos, a população não vai aceitar um passo para trás desse tamanho facilmente. Ou seja, esse tipo de ameaça – ou isso ou aquilo – pode levar a um convulsionamento social. O que é péssimo para os negócios.
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