Preparem o bolso: Candidatos adquirem apoio e nós pagaremos a fatura
Geraldo Alckmin elogia em público sua recente aquisição eleitoral, o PTB de Roberto Jefferson, de Cristiane Brasil, da Operação Registro Espúrio e das ações para dificultar a libertação de escravos. Ciro Gomes dá um passo atrás em seu discurso crítico e diz que não é contra uma Reforma Trabalhista, mas discorda da reforma levada a cabo por Michel Temer – o que agrada políticos-empresários. O PT conta com Renan Calheiros como aliado e busca diálogo com antigos parceiros, como gente do MDB – o mesmo que deu nele uma rasteira há dois anos. Bolsonaro bem que tentou, dialogando até com o Valdemar da Costa Neto, mas não conseguiu quem topasse a sua empreitada porque, segundo relatos, não sabe conversar sem partir para a agressão.
PT e PSDB, os dois maiores pilares que sustentavam o pacto firmado na Constituição Federal de 1988 (o Estado promotor do desenvolvimento econômico e garantidor dos direitos sociais) deveriam ter se antecipado ao fim do ciclo político da Nova República e trabalhado juntos para permitir uma reforma que garantisse representatividade política real e permitisse mais partidos ideológicos e menos fisiológicos. O que seria fundamental para enfrentar a nova realidade disruptiva trazida pela internet.
Mas isso não ocorreu. E as mudanças foram no sentido de manter tudo como estava.
E, com isso, alguns dos principais candidatos à Presidência da República foram novamente às compras.
A diferença é que, com um MDB radioativo, imobilizado em uma Presidência com 3% de aprovação, parte do poder de decisão foi para as mãos de partidos da centro-direita e da direita, como PR, PP, PRB, DEM, Solidariedade, o chamado "centrão" ou, melhor, "blocão".
Eles contam em suas fileiras com políticos que topam qualquer coisa para ter acesso a cargos e recursos, usando o Estado em nome de si mesmos e de seus patrocinadores. Em outras palavras, representam o que há de pior.
Com isso, em 15 de agosto, data limite para registro eleitoral das chapas, saberemos se nosso futuro ficará entre um governo autoritário e o velho presidencialismo de coalizão que sujeita a República a interesses particulares.
Falhamos na discussão sobre a depuração de partidos, aprovando uma Reforma Política que não apenas facilitou a manutenção dos parlamentares em seus mandatos, como também abriu a porteira para os ultra-ricos financiarem suas próprias campanhas. Isso ao mesmo tempo que libera mais recursos para a reeleição de deputados federais, estaduais, distritais e senadores, cria uma democracia de péssima qualidade por aqui.
Ao invés de aproveitarmos as possibilidades trazidas pela internet e procurarmos maneiras de fortalecer o sistema político, com instrumentos para ampliação da participação popular, caminhamos para entregar ainda mais poder ao parlamento. E, o pior: esse parlamento. É simplista dizer que o Congresso Nacional é apenas reflexo da população, pois a população não é composta de majoritariamente de empresários, fazendeiros, pastores e padres fundamentalistas, ex-policiais. Não tem uma maioria esmagadora de homens e não é branca. Mas quando não consciente de sua própria exploração, a população elege o próprio opressor.
Alguns ainda aproveitam para defender, em meio ao fundúnculo, o parlamentarismo. Não sou contra abrir esse debate, desde que fosse discutido em plebiscito popular e não imposto. Mas encontrando um sistema viciado e podre, entregar todo o poder ao Congresso apenas garantirá que esse sistema se mantenha em funcionamento mesmo que distante dos anseios e demandas da sociedade. Justifica-se que isso traria liberdade aos governantes frente a demandas insensatas e irracionais. Traduzindo, viva o crescimento econômico, o povo que se exploda.
O triste é pensar que as faturas vão cair em nosso cartão de crédito da vida cotidiana. Parceladas em quatro anos.
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