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Leonardo Sakamoto

Após desviar de Doria e vender alma ao "centrão", Alckmin tenta chegar lá

Leonardo Sakamoto

20/07/2018 05h23

Foto: Diego Padgurschi/Folhapress

Geraldo Alckmin conseguiu o apoio do bloco de partidos de direita e centro-direita, o que vai lhe garantir cerca de 40% do tempo da propaganda eleitoral de rádio e TV, além de alguns palanques, dando um passa-moleque em Ciro Gomes – que negociava com a mesmas agremiações.

Em troca, pichará a palavra "governabilidade" no asfalto quente da estrada que leva à perdição, como aconteceu com outros governos do PSDB e do PT. O do MDB, no caso, é a própria perdição.

Torna-se refém do DEM, PR, PP, PRB, Solidariedade, agora e durante o seu governo, tendo que entregar muita coisa, da vice-presidência ao apoio para o comando do Congresso Nacional.

Só o tempo dirá o quanto essa negociação custou, tanto para o bolso do cidadão quanto para a qualidade de vida da população, uma vez que a aquisição desses partidos também tem seu preço na forma de cargos, recursos e leis.

Hoje, Alckmin amarga 7% das intenções de voto, de acordo com a última pesquisa Datafolha. E vai ter dificuldade em sair desse patamar.

Enfrenta o desgaste de ter administrado o Estado de São Paulo por 1500 anos. E carrega o peso de ter que responder, em sabatinas e debates, sobre o tal do primo descartável que podia ser morto antes de fazer uma delação e tudo o mais que estiver conectado com Aécio Neves. Mas também sobre Eduardo Azeredo, José Serra e ele próprio, principalmente a respeito das denúncias relacionadas à corrupção na construção civil em seus governos. Isso sem contar que, mesmo com o desembarque do governo, o PSDB ainda será lembrado como o grande fiador de Temer e seus 3% de aprovação.

Contudo, uma parte de sua estagnação eleitoral é culpa de sua própria estratégia política.

Se não tivesse forçado a barra para que o PSDB engolisse João Doria como candidato à prefeito de São Paulo, não teria gasto um tempo precioso, ao longo de 2017, lutando internamente contra a traição do pupilo que passou a querer o posto de concorrente tucano ao Palácio do Planalto.

O ex-governador era o candidato natural da centro-direita ao Palácio do Planalto. E a operação Lava Jato facilitou a sua vida, prendendo Lula e tornando-o praticamente inelegível. Mas a vontade incontrolável de Doria e seu afobamento visando à Presidência da República, que começou assim que ele assumiu a Prefeitura, fez com que Alckmin perdesse quase um ano em uma grande batalha fratricida.

Ao final, Alckmin conseguiu desidratar Doria. Que na ânsia de mostrar que era capaz de ser o ungido, acabou enterrado em farinata. Se ao invés de gastar energia para articular nos bastidores um freio às intenções do ex-prefeito, Alckmin tivesse se dedicado a uma agenda de construção de sua imagem no Nordeste e entre a população mais pobre (público no qual o PT reconquistou espaço), talvez estivesse bem acima dos 7%. E a própria discussão das alianças, agora, seria em outras bases. Mais barata, digamos.

Porém, atingido por fogo amigo, teve que resolver o problema doméstico primeiro. Começará a campanha tendo trabalhado dobrado.

Se lhe faltar energia, sugiro que tome Doriavit, o complexo vitamínico da Ultrafarma em homenagem ao ex-prefeito.

 

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.