Topo

Leonardo Sakamoto

PT paga preço por Temer ser presidente. PSDB também será cobrado por isso?

Leonardo Sakamoto

04/08/2018 18h21

Foto: Nacho Doce/Reuters

O PT ainda paga o preço por ter colocado Michel "3% de ótimo e bom" Temer em nossas vidas. Em nome da governabilidade (palavra escrita com sangue nos muros do inferno), ele foi chamado para vice na chapa de Dilma Rousseff.

Parte da fatura por conta disso veio com a conspiração a céu aberto realizada pelo então vice visando ao impeachment. A dúvida agora é se haverá e qual o tamanho do ônus eleitoral do PSDB por ter sido parceiro fiel do presidente e parteiro de seu governo.

Mais do que uma birra do candidato derrotado nas eleições de 2014,  há líderes tucanos que queriam aproveitar a janela de oportunidade que se abriria com a retirada de Dilma Rousseff a fim de aprovar reformas que seriam rechaçadas pela população se apresentadas durante este processo eleitoral.

Reformas que, sob a justificativa do momento de crise econômica, retiraram parte da rede de proteção dos mais vulneráveis, priorizando o desenvolvimento econômico. Entre elas, estão a PEC do Teto dos Gastos (que limitou, por 20 anos, investimentos em áreas como educação, saúde e ciência), a Lei da Terceirização Ampla e a Reforma Trabalhista.

A entrega foi tão absurda que o Senado Federal, puxado por senadores-empresários, parte deles do PSDB, abriu mão de seu papel de casa revisora e deixou a Reforma Trabalhista vir da Câmara dos Deputados e seguir para a sanção presidencial sem alterações, sob a promessa de que Temer editaria uma Medida Provisória para corrigir pontos mais sinistros. Seis meses depois, a MP caducou por desinteresse e ficou por isso mesmo. Ou seja, comemoremos. Afinal, agora grávidas e lactantes podem trabalhar em ambientes nocivos, por exemplo, e gerar riqueza para este país.

Apesar das promessas que as reformas trariam rios de leite e mel, a queda do desemprego segue lenta, com 13 milhões de desempregados e mais de quatro milhões que desistiram de procurar trabalho depois de muito tentar.

Nas votações tidas como prioritárias pelo governo no Congresso Nacional, o PSDB foi o principal escudeiro de Temer, com 83,5% dos votos favoráveis, seguido pelo DEM, com 80,7%, e pelo próprio MDB do presidente, com 78,9%, de acordo com levantamento da Folha de S.Paulo, publicado em maio.

Mas não só nas reformas liberalizantes. O apoio do partido também ajudou a afastar as denúncias criminais contra Temer encaminhadas pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal.

Como já disse aqui, a manutenção de Michel Temer e de seu grupo político no poder teve um preço alto à nação. Seria justo que isso fosse extensamente discutido até o dia 7 de outubro.

É fato que a candidatura do ex-ministro da Fazenda de Temer, Henrique Meirelles (MDB), foi uma mão na roda para Geraldo Alckmin. Ela funcionará como um boi que se oferece feliz para atravessar um rio cheio de piranhas. Dessa forma, o PSDB pode passar protegido de ser mordido por perguntas como "Ei! Vocês não são aqueles que apoiaram este governo ruim?"

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.