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Leonardo Sakamoto

Pesquisa mostra que Bolsonaro é rejeitado por 49% do eleitorado feminino

Leonardo Sakamoto

10/09/2018 23h02

Jair Bolsonaro recebe facada em atentado em Juiz de Fora (MG). Foto: Raysa Leite/AFP

A pesquisa Datafolha, divulgada na noite desta segunda (10), apontou que Jair Bolsonaro segue líder na campanha presidencial, tendo passado de 20% para 22% nas intenções de voto. O avanço, segundo o instituto, ocorre dentro da margem de erro – dois pontos para cima e dois para baixo. Ciro Gomes (13%), Marina Silva (11%), Geraldo Alckmin (10%) e Fernando Haddad (9%) aparecem em empate técnico.

A pesquisa é a primeira, de extensão nacional, realizada após o atentado contra a vida do candidato em Juiz de Fora (MG), na última quinta (6). Bolsonaro segue internado em São Paulo e seu quadro é estável.

Se, por um lado, ele é o candidato em primeiro nas intenções de voto, também é o que registra maior rejeição (43%) – na pesquisa anterior (22 de agosto), ela era de 39%, mas como Lula estava entre os listados, a comparação fica estatisticamente prejudicada.

Três fatos relevantes aconteceram entre as duas pesquisas para ajudar a entender esses dados: o atentado, no dia 6 de setembro, a retirada do ex-presidente Lula da disputa, na madrugada de 1o de setembro, e, portanto, de pesquisas por decisão do Tribunal Superior Eleitoral e o início da campanha eleitoral no rádio e na TV, em 31 de agosto.

Até agora o atentado não provocou uma onda de comoção entre os indecisos para elevar significativamente os votos do ex-capitão, ao contrário de previsões de seus aliados e adversários. Na intenção de voto entre os homens, Bolsonaro foi de 30% para 32%, dentro da margem de erro. E entre as mulheres, de 14% para 17%.

Pode-se especular muita coisa a partir disso. Por exemplo, que o ataque e as reações a ele contribuíram com a rejeição. Ou que o horário eleitoral, em que Bolsonaro tem apanhado bastante, ajudou a reduzir suas intenções de voto e, depois, o atentado contribuiu para recuperar a diferença.

Mas com Lula fora do rol de candidatos possíveis, a polarização que o deputado federal tentava estabelecer com o ex-presidente torna-se sem efeito. Ele deixa de ser "alguém para derrotar Lula" para ser visto como ele próprio, com suas propostas e opiniões, amargas para um naco considerável da população. Até porque outros candidatos se mostram capazes de derrotar Fernando Haddad, o substituto, no segundo turno.

Amargas, principalmente, entre as mulheres. O Datafolha aponta que sua rejeição entre os homens está em 37%. Já, entre as mulheres, 49%. Ou seja, praticamente metade do eleitorado feminino (que corresponde a 53% do total do eleitorado brasileiro) não aceita votar nele de jeito nenhum.

Parte dessa diferença deve-se, provavelmente, à defesa, por parte do candidato, de pautas como o armamento da população e à sua retórica mais agressiva, que encontram mais eco entre homens. Mulheres apresentam um posicionamento mais crítico a esse discurso – até porque, para cada morto, ferido ou preso, ficam filhas, mães, irmãs, esposas, que acabam sendo obrigadas a também viverem esses dramas.

Nesse sentido, pode ser emblemático para seus eleitores mais fiéis que, no leito da UTI, ele faça seu tradicional sinal de armas com os dedos das mãos. Mas isso pode não ser atraente para um eleitorado indeciso e que está cansado de violência como resposta à violência.

A propaganda eleitoral no rádio e TV da campanha de Geraldo Alckmin – que disputa diretamente com o capitão da reserva do Exército uma vaga no segundo turno – inundou os eleitores com peças para tentar mostrar o machismo de Bolsonaro. O tucano conta com um latifúndio de coligações envolvendo partidos da centro-direita e direita e, por isso, colhe 44% do tempo de exposição. Os bombardeios tucanos diários com imagens do candidato em situações machistas, como agressões verbais a uma outra deputada e a uma repórter, foram suspensas depois do atentado.

É difícil prever o que acontecerá com a parcela das eleitoras de Bolsonaro que aceita mudar de voto (ele tem 28% das intenções de voto espontâneas entre os homens, mas apenas, 13%, entre mulheres) e, principalmente, com as indecisas. Também não se sabe se, no caso de Bolsonaro, o degrau de votos segue até o final ou se o voto de mulheres acompanhará o de homens ou ainda se o de homens acompanhará o de mulheres.

O trabalho de lapidação da imagem junto a um novo público depende de tempo de rádio e TV ou de exposição em entrevistas, sabatinas e campanha de rua. Ou seja, mais diálogo e menos memes e frases de efeito, que tendem a ter alcance limitados nas bolhas digitais.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.