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Leonardo Sakamoto

Flávio Bolsonaro copia Queiroz e usa a TV para empurrar país com a barriga

Leonardo Sakamoto

19/01/2019 01h56

Flávio e Jair Bolsonaro. Foto : Adriano Machado/Reuters

Tanto Flávio Bolsonaro quanto Fabrício Queiroz evitaram o MP e foram à TV dizer que não têm nada para esconder e que tudo será explicado, no momento certo, ao MP. O problema é que esse "nada" é tão discreto quanto um filhote de elefante brincando de esconde-esconde sob o tapete da sala de seu pai, no Palácio do Planalto.

O deputado estadual e senador eleito afirmou, em entrevista ao Jornal da Record, na noite desta sexta (18), que não tem "nada para esconder de ninguém" e que vai "onde tiver que ir para esclarecer qualquer coisa", referindo-se à polêmica causada pelas "movimentações atípicas" na conta de seu ex-assessor.

Pouco antes, reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, tratou de engordar o tal elefante. De acordo com um relatório do Coaf, feito a pedido do MP-RJ, foram realizados 48 depósitos de R$ 2 mil, totalizando R$ 96 mil, entre 9 de julho e 13 de julho de 2017, na conta de Flávio. Eles se concentraram na agência bancária que fica dentro da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e despertaram suspeitas.

Flávio poderia ter atendido ao convite do MP e resolvido todas as dúvidas com presteza e transparência. Mas preferiu pedir ao Supremo Tribunal Federal a suspensão da investigação criminal envolvendo seu ex-assessor e motorista Queiroz e a anulação das provas. O senador eleito argumentou que passou a ter foro privilegiado com a diplomação (mesmo que ele só valha apenas para assuntos ocorrido durante o mandato) e quer que o STF aponte a quem deve "prestar os devidos esclarecimentos".

A oposição ao governo acusa Fabrício Queiroz de ser um laranja usado pela família Bolsonaro para repassar parte dos salários recebidos por funcionários de seus mandatos. Há coincidências entre datas de pagamentos dos salários pela Assembleia Legislativa do Rio, depósitos na conta de Queiroz feitos por outros funcionários do gabinete de Flávio e saques em dinheiro pelo ex-assessor.

Fabrício Queiroz, por sua vez, revelou, em entrevista ao SBT, no dia 26 de dezembro, que evitou o MP e optou por falar à TV a fim de dizer que o mais importante só dirá ao MP. Faltou às convocações feitas pelo Ministério Público porque, segundo ele, precisava fazer exames devido a um tumor no intestino. Operou no hospital Albert Einstein, no início deste ano, um dos mais caros do país – comprovando que a atividade de rolo de veículos deve ser bem lucrativa. Repetiu que dará esclarecimentos, quando a saúde permitir. Ou seja, algum dia.

Vale lembrar que o caso das "movimentações atípicas" de R$ 1,2 milhão do assessor de Flávio Bolsonaro incluíram um depósito de R$ 24 mil na conta da primeira-dama, que Jair Bolsonaro afirma ser a devolução de um empréstimo que fez a Queiroz. Tudo isso é conhecido desde 6 de dezembro, quando o jornal O Estado de S.Paulo o revelou. Faltam explicações, sobram justificativas.

Quanto mais tempo levar para surgir uma "explicação plausível", maior será o prejuízo não apenas para o senador eleito, mas também ao presidente. Primeiro porque a mera suspeita de que funcionários dividiam parte de seus salários com os políticos é terrível para a credibilidade. O que causa problemas para o governo que contava com o papel de articulador de Flávio junto aos senadores. Ao mesmo tempo, o que acontece com seus filhos respinga em Bolsonaro. Ele os trouxe para perto do núcleo de seu governo, como eminências sem cargo. Natural, portanto, que seja também responsável por eles.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.