Caso do laranjal do PSL vira reality BBB - Bolsonaro and Bolsonaro Brother
Jair Bolsonaro tem direito a exonerar qualquer ministro ou assessor se considerar que a pessoa não é mais compatível ou desejável para um cargo, uma vez que foi eleito democraticamente e possui tal prerrogativa.
Dito isso, ao invés de tratar do assunto direta e objetivamente como se espera de um líder, o presidente da República permitiu que o caso do ministro Gustavo Bebianno fosse transformado num reality show do tipo BBB (Bolsonaro and Bolsonaro Brother), consumido, ao longo desta quarta (13), como um barraco político nas redes sociais.
Reportagens da Folha de S.Paulo mostraram que Bebianno, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, então presidente do PSL, liberou grandes somas de recursos públicos para candidatos-laranja do partido durante a campanha eleitoral, inclusive do grupo do atual presidente, Luciano Bivar. Pressionado, disse ao jornal O Globo que havia falado com o presidente, pelo menos três vezes, e tudo estava bem entre eles – apesar do forte odor de laranjada.
Jair Bolsonaro teria ficado possesso com as declarações de Bebianno. O vereador Carlos Bolsonaro, escudeiro digital do pai, tuitou que a declaração era mentira e postou um áudio em que o presidente dizia que não podia atender ao ministro. Depois, ele próprio retuitou a declaração do filho. Horas mais tarde, apareceu no Jornal da Record, em uma entrevista gravada, reafirmando que Bebianno mentiu. Disse que pediu a Sérgio Moro para a Polícia Federal investigar as denúncias de produção de cítricos pelo seu partido e, se ficar comprovada responsabilidade, o ministro imediatamente viraria bagaço.
Bolsonaro sabe como usar as redes sociais a seu favor, escancarando a construção simbólica da política, de modo a se vender como espontâneo e transparente frente ao construído e opaco – mesmo que sua espontaneidade, não raro, também seja construída e que nem tudo se torne público, principalmente histórias sobre disparos de WhatsApp.
Neste caso, contudo, chamou a atenção da oposição e de aliados, como um vereador do município do Rio de Janeiro, sem cargo na estrutura federal, participa ativamente dos processos políticos do Palácio do Planalto.
Ao invés de convocar Bebianno, pedir explicações e demandar a tal investigação ou demiti-lo ou ainda pedir que, gentilmente, se demita, o presidente preferiu mostrar publicamente que seu auxiliar é um mentiroso, num grande #ficaadica, esperando que ele próprio se retirasse. À noite, o ministro disse à Andréia Sadi, na GloboNews, que só deixa o posto exonerado. Um de seus aliados já alertou que Bolsonaro "deve sua eleição a Gustavo Bebianno". Traduzindo: o homem é um diário vivo e convém não chatear os diários vivos.
O problema é que nem sempre se controla o resultado de um barraco em um reality show. Quando a coisa esquenta, aliados de um lado e do outro começam a atacar ou declarar apoio. Foi assim no Congresso Nacional e na Esplanada dos Ministérios, seja a parte civil ou militar. Isso movimenta os atores, até porque ninguém sabe quem pode ser o próximo, ainda mais com tanto poder concentrado nas mãos de membros da família presidencial.
O senador Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz foram os primeiros a trazer a expressão "laranja" para o léxico do governo de seu pai. O vereador Carlos Bolsonaro, responsável pela estratégia de redes sociais do presidente, bate de frente com Bebianno, desde a campanha eleitoral, pelo controle da comunicação. Eduardo Bolsonaro, durante a campanha, cunhou a já antológica ideia de que para fechar o STF, basta "um soldado e um cabo". A presença de seus no seu cotidiano político pode ser uma fortaleza em que Bolsonaro se protege. Mas, vale lembrar, que dependendo do posto de vista, toda fortaleza também é um calabouço.
Há uma chance de Bebianno deixar o Palácio do Planalto se a pressão tornar-se incontornável, o que ficaremos sabendo em breve. Pode-se dizer, com base no que aconteceu nesta quarta, que os Bolsonaros farão de tudo para se proteger, animando a militância, via redes sociais e aplicativos de mensagens, mandando mesmo os aliados mais próximos para o "paredão" se necessário.
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