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Leonardo Sakamoto

Governo esconde cálculo da Reforma da Previdência ou parte dele nem existe?

Leonardo Sakamoto

23/04/2019 20h49

Ministro Paulo Guedes (Economia) bate boca com deputados federais eu audiência sobre a Reforma da Previdência. Foto" Pedro Ladeira/Folhapress

A insistência do governo federal em postergar a divulgação dos estudos e pareceres técnicos que embasaram sua proposta de Reforma da Previdência ganhou um novo capítulo quando o Ministério da Economia disse que ainda é necessário fazer contas detalhadas sobre o impacto de algumas medidas.

Fazer contas. Agora. Dois meses após a proposta ter sido apresentada. E defendida. Até com chantagens. Pelo governo.

"É na comissão especial que nós vamos apresentar o conjunto dos documentos até porque a desagregação significa impactar o modelo que está sendo utilizado. Cálculos precisam ser feitos", afirmou o secretário de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, em registro de Thiago Resende e Angela Boldrini, da Folha de S.Paulo. O jornal foi quem solicitou, via Lei de Acesso à Informação, os dados, mas teve um conjunto de nãos como resposta.

Ou seja, a Proposta de Emenda Constitucional está tramitando na Câmara dos Deputados e o governo federal diz que ainda não tem todos os cálculos que seriam necessários para justificar cada medida proposta.

Provavelmente, achou que ninguém ia pedir. Ou que seria tranquilo dar um perdido. Afinal, trata-se de grana pouca, trocados que totalizam R$ 1 trilhão em dez anos. E não adianta comparar com os projetos que tramitaram em outros governos, pois este é muito mais amplo, alterando profundamente a Previdência e a Seguridade Social.

Dada a pressão pública por transparência, o governo diz que vai apresentar números. Prometeu por começar a entregá-los, nesta quinta (25).  Mas a menos que apresente números comprováveis justificando as medidas que apresentou, a proposta de Bolsonaro não vai parar em pé. 

Como já disse aqui, ao tentar empurrar a proposta goela abaixo sem mostrar ou, melhor, sem ter dados e números, o governo Bolsonaro quer um cheque em branco do Congresso Nacional e da sociedade. 

E o pior de tudo não é a evidente precariedade e arrogância. Mas o governo achar que os trabalhadores são incapazes de perceber que alguma coisa está faltando.

 

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.