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Leonardo Sakamoto

O etanol dos postos de combustível pode ser responsável?

Leonardo Sakamoto

24/09/2007 18h53

Representantes da usina Pagrisa estão visitando distribuidoras de combustível para tentar convencê-las a reatar relações comerciais. Empresas que assinaram o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, como Petrobras e Ipiranga, suspenderam a compra de etanol da Pagrisa após ação do grupo móvel de fiscalização resgatar 1.064 trabalhadores rurais de sua fazenda de cana-de-açúcar em Ulianópolis (PA) no final de junho. Os proprietários negam ter utilizado esse tipo de mão-de-obra.

O comportamento socialmente responsável das filiadas ao Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustível e Lubrificantes (Sindicom) tem pressionado usineiros a mudarem o tratamento que dispensam aos seus empregados. Elas deram um recado: ou atuam dentro da legislação trabalhista ou ficam sem clientes. Há muito a ser feito na área, mas o exemplo do Sindicom já é reconhecido internacionalmente.

A transformação do Brasil em condição de líder global na produção de biocombustíveis não pode acontecer através da superexploração de pessoas. Não estamos falando apenas de trabalho escravo, degradante ou infantil, mas também de qualquer tentativa de lucrar de forma ilegal em cima do trabalhador. Um país só pode se orgulhar de um produto feito respeitando sua terra e seu povo.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.