Topo

Leonardo Sakamoto

A principal e mais antiga denúncia contra Sarney

Leonardo Sakamoto

13/07/2009 13h54

Tenho recebido valiosas contribuições de um jornalista amigo meu, o Zé. Como ele não tem paciência para ter um blog, mas conta com uma sensibilidade ímpar, posto aqui algumas de suas impressões.

Meu amigo Zé pede para que eu lembre a todos que o Maranhão tem o segundo pior IDH do Brasil.
De acordo com os dados disponíveis do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), entre 1991 a 2005, o Estado só não ficou em último lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano porque Alagoas (outra terra devastada pelo coronelismo) não deixou.

O Zé diz que sem desmerecer todas as (novas) denúncias de corrupção, nepotismo, desvio de verbas públicas, contas no exterior que recaem contra o presidente do Senado, a miséria em que se encontra boa parte do povo maranhense já era motivo suficiente para qualquer brasileiro bradar "Fora Sarney!" Isso sem contar o seu desastroso mandato de presidente nos anos 80.

Corrupção na máquina pública e exploração da pobreza estão intimamente relacionados, mas infelizmente é mais fácil cassar alguém pelo primeiro delito do que pelo segundo. O Maranhão, sob o domínio dos Sarney, não só permaneceu nas piores posições nos indicadores sociais, mas também viu suas terras serem desmatadas e poluídas, latifúndios crescerem, trabalhadores serem escravizados e assassinados, comunidades tradicionais serem ameaças e expulsas, a educação ser sucateada, os meios de comunicação serem concentrados nas mão de poucos.

Alguns vão colocar a culpa na própria população que os elege. Não é tão simples – Sarney teve que fugir e virar senador pelo Amapá para não ficar fora do jogo político em um determinado momento. O Maranhão é um Estado com importantes movimentos sociais e uma sociedade civil cada vez mais atuante – o problema é o desalento de boa parte da população, que – infelizmente – já não acredita que a política faça diferença em sua vida. Essa, talvez, seja a pior herança deixada por esse clã.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.