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Leonardo Sakamoto

O pinto esfolado vivo e o ovo nosso de cada dia

Leonardo Sakamoto

03/09/2009 21h05

Dia desses, um amigo me perguntou o que acontece com os pintinhos machos que nascem em grandes granjas voltadas à produção de ovos, uma vez que – até que se prove o contrário – eles não põem ovos.

A despeito do questionamento bizarro (não farei esforço algum para contextualizar os termos da nossa conversa), é uma boa pergunta. Afinal, se nenhuma manipulação ambiental ou genética for feita, cerca de 50% deles deveria nascer macho. O que ocorre com os indesejáveis?

Um vídeo postado por um grupo de defesa dos animais, a Mercy of Animals, e que está circulando na rede, mostra como centenas de milhares de pintinhos são mortos em uma das maiores granjas do mundo, a Hy-Line International, localizada no Estado norte-americano de Iowa. Está em inglês, mas o que importa são as imagens.

Uma amiga, que estudou zootecnia, me explicou que essa forma de "descarte" – no que pese ser medonha – é comum aqui no Brasil. Em muitos casos, criar um sistema para vender o galinho aumentaria o custo de produção dos ovos. Pois se a empresa quer lucro, nós queremos produtos baratos.

Outras possíveis formas de desova são lançar o pinto em água eletrificada ou jogá-lo em uma câmara de vácuo e retirar o ar. Na prática, o bichinho explode. O que sobra muitas vezes é usado como ração para as próprias galinhas. Se fosse vaca, ficaria louca.

Não estou dando lição de moral e não tenho a menor intenção de ensinar nada com isso. Apenas lembrar que a gente é o que a gente come.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.