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Leonardo Sakamoto

Rio+20: Pão de Açúcar irá vender arroz sem agrotóxico do MST

Leonardo Sakamoto

20/06/2012 01h17

Rio de  Janeiro – O grupo Pão de Açúcar anunciou a compra de 15 toneladas de arroz orgânico produzido pela Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita, ligada ao MST. A transação foi divulgada pouco antes do debate "Segurança e Soberania Alimentar", realizado na tarde desta terça (19) e que fui convidado a mediar, aqui no Rio de Janeiro. O evento faz parte das atividades da Cúpula dos Povos, que está sendo realizada paralelamente à Rio+20. Garantir o escoamento da produção é política fundamental para o sucesso de um assentamento da reforma agrária.

Apresentada na presença do ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, o acordo foi vendido como a maior transação comercial do movimento com um mercado por intermédio do programa "Brasil Sem Miséria", do governo federal.  "Parece contraditório, mas sentimos a necessidade de expor e divulgar mais sobre o movimento para a classe média, mostrar que nossa produção é social e ambientalmente sustentável", afirmou Milton Formazieri, da coordenação nacional do MST. De acordo com ele, o arroz é produzido livre de agrotóxicos no Rio Grande do Sul e será encaminhado às lojas da rede no Centro-Oeste. Nas embalagens haverá o símbolo do MST. O movimento espera, até o final do ano, manter transações semanais de 10 toneladas.

No debate que ocorreu após o lançamento, houve o consenso entre o participantes (que incluíram além do ministro Vargas, Renato Jamil Maluf, ex- presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Esther Penunian, secretária‐geral da Asian Farmer's Associatio,n e Karen Hansen-Kuhn, diretora internacional de programas do Institute for Agriculture and Trade Policy) de que apenas uma ação firme do Estado, através de políticas públicas eficazes, é capaz de garantir o acesso aos alimentos. Ou seja, deixar na mão do mercado, para que "automaticamente" resolva, é um erro. E que não é a monocultura de larga escala que irá resolver o problema da alimentação, mas sim a agricultura familiar. Ou, como disse Jamil Maluf: "Que modelo queremos? O agronegócio poluidor, que usa agrotóxicos de forma indiscriminada, ou a agricultura familiar sustentável e mais saudável?".

O Pão de Açúcar diz ter interesse em manter negócios com cooperativas de camponeses ligados ao movimento. "Nossa intenção é ampliar ainda mais estas negociações. Temos a preocupação de pensar na questão ambiental e também na social", afirmou Paulo Pompilio, responsável pelas relações institucionais do grupo. Ele também afirmou que a rede pretende ampliar as negociações com movimentos sociais e valorizar a produção sem agrotóxicos ou defensivos.

Com informações de Daniel Santini, da Repórter Brasil.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.