Será que vamos precisar de mais 513 anos para amansar os índios?
Dia do Índio se tornar escravo em fazenda de cana no Mato Grosso do Sul; de ser convencido que precisa dar sua cota de sacrifício pelo PAC e não questionar quando chega a nota de despejo em nome de hidrelétricas com estudo de impacto ambiental meia-boca; de armar um barraco de lona na beira da estrada porque foi expulso de sua terra por um grileiro; de ver seus filhos desnutridos passarem fome porque a área em que seu povo produziria alimentos foi entregue a um fazendeiro amigo do rei e da rainha; de ser queimado em banco de ponto de ônibus porque foi confundido com um "mendigo"; de ser chamado de indolente porque não se ajoelha ao capitalism; de ter negado o corpo de filhos assassinados em conflitos pela terra porque o Estado não faz seu trabalho; de se tornar exposição no zoológico da maior cidade do país como se fosse bichinho; de ser retratado como praga em outdoor no Sul da Bahia por atravancar o progresso; de tomar porrada na Bolívia, no Paraguai, na Colômbia, no Peru, no Equador, no Chile, na Argentina, na Venezuela só porque é índio; de ser motivo de medo de atriz de TV, que acha que um direito de propriedade fraudulento está acima do direito à dignidade; de entender que a invasão de nossas fronteiras é iminente e, por isso, precisa deixar suas terras para dar lugar a fazendas; de sofrer preconceito por seus olhos amendoados, sua pele morena, sua cultura, suas crenças e tradições; de se lembrar de quem manda e quem obedece e parar com esses protestos e ocupações de terra idiotas que pipocam aqui e ali.
Ou será que nós, os homens de bem, vamos precisar de outros 513 anos para amansar esse povo?
Criança branca pintada de índio, fazendo sons de Western gringo, em escola de classe média alta é hype. Criança índia desterrada, esmolando no semáforo, é kitsch. Índio só é fofo se vem embalado para consumo.
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