Sardinha de lata, se pegasse metrô em SP, ficaria magoada
Confesso que quase tive uma síncope com o quiprocó ocorrido, nesta quarta (4), na conexão entre as estações Consolação (linha 2-verde) e Paulista (4-amarela) do metrô de São Paulo: depois que uma das esteiras rolantes travou, pessoas foram ao chão, caindo sobre umas sobre as outras. Na confusão, os pilares usados para separar o fluxo de gente tombaram e o barulho, confundido com tiros, aumentou o pânico e o corre-corre. Saldo: 20 pessoas feridas, sendo que 16 delas foram levadas ao pronto-socorro. Essa seria a terceira vez que este tipo de tumulto ocorre na interligação.
Para quem não conhece, a conexão, que conta com esteiras e escadas rolantes e corredores, é uma das coisas mais mal projetadas da história da engenharia mundial. Na hora do rush, de manhã ou no final da tarde, a transferência é inundada por um mar de gente, que anda lentamente em um afunilamento claustrofóbico, feito boi em matadouro. Sardinha de lata, se pegasse metrô, ficaria magoada com o aperto da ligação.
E a construção das estações da linha 4-amarela, sob a responsabilidade da iniciativa privada (Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Alston), colecionou cadáveres.
Em outubro de 2006, um operário morreu soterrado após um túnel de 25 metros de profundidade na futura estação Oscar Freire desabar.
Em janeiro de 2007, sete pessoas morreram após serem engolidas por uma cratera aberta no local onde hoje fica a estação Pinheros da linha 4.
Em fevereiro de 2011, um engenheiro de um empreiteira terceirizada morreu eletrocutado com uma descarga de 20 mil volts perto da futura estação Fradique Coutinho.
Na hora de inaugurar uma estação de metrô, políticos sorriem muito branco. Mas na hora de encontrar responsáveis por óbitos, de discutir obras apressadas ou mal planejadas, todos desaparecem rapidamente, feito os ratinhos que vivem nos túneis de trem. Ou dão sorrisos amarelos ao lançar a frase-mor da enrolação no Brasil: "uma comissão será criada para analisar o ocorrido". Traduzindo: "ei, fala com minha mãozinha, fala".
Pessoas em cargos públicos deveriam ser moralmente constrangidas a usarem transporte público. Ou, melhor: todo político paulistano deveria ser obrigado a fazer a conexão entre as estações Consolação e Paulista na hora do rush, pelo menos uma vez por semana. Para quê? Ué, não dizem que gostam do calor do povo? Bora lá.
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