Pessoas que defendem faixas de ônibus tornaram a vida em SP um inferno
– É por conta de pessoas como você, que defendem essas faixas de ônibus idiotas, que a vida em São Paulo ficou um inferno.
– Oi?
– Que culpa tenho eu de ter carro?
– Pera aí, você deve estar me confundindo, amigo.
– Não sou seu amigo e sei muito bem com quem estou falando. Você é uma daqueles vermelhinhos que defendem as faixas de ônibus na internet.
Juro que, na hora, minha cabeça doentia formou uma imagem de um Papai Noel dirigindo um busão, transportando um monte de duendes alucinados, cantando funk (pará- pará- pará- pará-pá-pá-pá-pá…), mas definitivamente não era o caso de expressar isso.
– Sim, defendo as faixas de ônibus. Mas, olha, são sete e meia da madrugada. Você quer realmente conversar sobre isso agora?
– Não tem conversa, só quero dizer que vocês estão impondo uma ditadura na cidade. Estão roubando ela de nós! Que culpa tenho eu de ter dinheiro para comprar um carro?
Daí, na frente do balcão da padaria, eis que me deparo com coxinha…
– Quatro pãezinhos, por favor. Ninguém está roubando ninguém, meu chapa. É só uma questão lógica. Todo mundo fala que tem que priorizar transporte coletivo, mas ninguém aceita ceder no uso do carro. Algumas medidas são dolorosas, mas necessárias.
– Eu nunca defendi que tem que priorizar coisa nenhuma. As coisas tinham que ficar como sempre foram.
Novamente, o tosco aqui foi longe… Imaginando uma plantation gigantesca e o nobre senhor em questão bebericando uma cachacinha com o padre e o delegado na varanda da sede: "Vejam só que coisa. Dia desses, um desses negrinhos aí disse que tinha direitos, que ia procurar o Ministério do Trabalho. Mandei logo moer meia hora de pau nele para se lembrar que manda quem pode e obedece quem tem juízo".
– Meu bom homem. Lembre que a maioria das pessoas usam ônibus, metrô e trem na cidade.
– Mentira. Mentira deslavada. Todos meus amigos usam carro. Não conheço ninguém que vai de ônibus ou metrô para o trabalho.
Na hora veio à cabeça a lembrança de uma visita a um clube da elite paulistana em que não vi um único negro como associado a manhã inteira. "Aqui dentro ninguém discrimina ninguém", foi o que ouvi. Claro. E tinha alguém para ser discriminado?
– Também quero 200 gramas desse pão de queijo aqui. O senhor não acha que está exagerando um pouco, não?
– Não adianta querer soluções europeias para São Paulo. Os pobres daqui não são iguais aos da Europa.
– Os ricos muito menos… O senhor já experimentou usar transporte público de vez em quando?
– Que ideia idiota. Para que que eu tenho um carro se não posso usá-lo?
– É verdade, né. Quero dizer que o senhor me convenceu. Chegando em casa, vou até escrever sobre isso.
– Acho ironia uma idiotice.
– Eu também.
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