Em um semáforo, um pobre e um rico pediam dinheiro
Conversas de semáforo tendem a ser objetivas.
Por vezes, produzem pequenas poesias, quase hai cais, da urbanidade.
É este o caso narrado por um advogado ao blog.
Caso que não exclui o lirismo apesar de narrado por um advogado.
Em uma esquina movimentada de São Paulo, jovens com nomes de faculdades pintados nos rostos à guache abordavam os veículos:
– Oi, tudo bem? Você poderia me dar uma moedinha. Eu passei na faculdade.
Vendo a cena, uma pessoa em situação de rua que também fazia ponto naquele local e olhava ressabiado para a profusão de felicidade, provido de uma capacidade de sobrevivência deliciosa achegou-se enquanto o jovem ainda estava lá:
– O senhor também poderia me dar uma? Eu também passei. Passei fome, passei frio, passei necessidade…
Dar dinheiro alegremente – quiçá projetando-se no outro a fim de reviver um saudoso momento e participar de um rito comum à sua classe social.
Ou dar dinheiro de forma constrangida – por ter melhores condições em um país extremamente rico e proporcionalmente desigual, sentindo-se obrigado diante da circunstância no semáforo ou sob o efeito de sentimentos como a pena.
Qual foi o desfecho? Nem te conto.
Fica mais interessante que cada um termine a história do seu próprio jeito.
Sem falsos moralismos, importa menos a conclusão que damos ao caso do que o caminho que levamos para chegar até ela. Ou seja, não é porque você não deu a moedinha ao "playboyzinho" e sim ao "mendigo" que você vai para o céu. Se o céu existisse, claro.
Esse caminho diz muito sobre como imaginamos a sociedade. Mas diz mais ainda sobre quem imaginamos ser.
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