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Leonardo Sakamoto

Se Aécio e Dilma tiverem bom senso, estão com vergonha desse debate

Leonardo Sakamoto

16/10/2014 21h59

Não vou dizer que chegamos ao fundo do poço porque o poço não tem fundo.

Mas depois de ver a sessão de caneladas de comentarista de internet, ops, o debate presidencial desta quinta (16), sinto-me um ser humano um pouco pior.

Parabéns ao PSDB e ao PT e aos marqueteiros das campanhas que treinaram seus candidatos para cometerem aquele show de horrores.

Isso certamente atendeu a cálculos sofisticadíssimos e obedeceu às orientações tiradas de grupos de controle que assistiam ao debate e comentavam, a partir de salas climaticamente controladas, com salgadinhos e sucos de caixinha, o desempenho dos candidatos.

Só esqueceram de pensar no interesse público. Com um milhão de assuntos para tratar, giravam em torno dos mesmos. Se pelo menos respondessem à pergunta um do outro, melhor.  Mas não, tergiversavam. Ou respondiam acusações com mais acusações.

"Que dia é hoje?" "Banana, candidato, banana."

"Que horas são?" O sofá é de veludo, candidata."

Ou as campanhas aceitam mudanças no formato dos debates – com a introdução de perguntas externas por jornalistas ou eleitores e um mediador que não seja apenas bedel de tempo, mas questione e garanta que as indagações sejam respondidas – ou é melhor parar de brincar.

Sugestão: se os partidos não confiam no taco dos seus candidatos a ponto de deixarem os dois engessados a respostas vagabundas, circulando feito baratas tontas em meia dúzia de temas, bora fazer o seguinte: tira Aécio, põe Fernando Henrique, tira Dilma, põe Lula. E deixa os dois debaterem livremente como porta-vozes da visão de mundo de cada um dos grupos que disputa o poder.

Porque, no final das contas, é o que todos querem saber: qual o modelo de condução do país. E para aonde ele vai nos levar.

Aliás, se Dilma e Aécio tiverem um mínimo, um mínimo de bom senso (e eu acho que eles têm porque são melhores do que isso), deveriam estar agora com vergonha do atentado que ajudaram a cometer.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.